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Death Note – Crítica

Mozart 14 anos ago 11 24

Alexandre Landucci

A tarefa dessa quinzena imposta pelos carrascos do Senpuu foi a de assistir as adaptações cinematográficas do mangá e anime Death Note, um dos mais brilhantes da última década.

Death Note é sobre um caderno misterioso, de origem “infernal” que surge na terra e é obtido por Raito Yagami, um arrogante, frio e brilhante estudante. O caderno tem propriedades mágicas que fazem quem tiver seu nome escrito em suas folhas ser morto. Yagami usa o caderno e com seu senso doentio de justiça passa a agir como vigilante, matando a todos os pretensos inimigos da sociedade.

A partir dos assassinatos surge o enigmático L, um detetive que passa a caçar o assassino, intitulado Kira. L, é no mínimo exótico apesar de todo o seu brilhantismo. Sua postura curvada, quase simiesca somado a seu olhar perturbador e sua obsessão por açúcar fazem do personagem inesquecível para quem teve o prazer de ler o mangá original.

Death Note, desenvolve-se como essa fabulosa dança entre as duas mentes privilegiadas de Raito e L, sempre tentando encontrar uma forma de vencerem um ao outro. Raito, filho do chefe de polícia que investiga o caso Kira, é o suspeito que L sempre gostaria de colocar as mãos mais que nunca consegue, por falta de provas ou pela astúcia de seu arquiinimigo.

Death Note também é brilhante em sua condução claustrofóbica e impactante, o que faz o leitor – incluindo esse que escreve – devorar suas edições de forma selvagem. O jogo mental é fabuloso e digno dos melhores contos policiais da literatura. Material de altíssima qualidade.

Se fossemos fazer uma comparação – rasa – encontro aqui elementos de Do Inferno (a brilhante mini-série de Alan Moore sobre Jack, o Estripador, que assim como Death Note, não esconde do leitor a identidade de seu assassino e apresenta a caça da polícia em paralelo) e a série de TV Dexter (onde o público se vê torcendo para um serial killer, tamanha a complexidade de sua história e suas ações). Kira, ou Raito é uma mistura desses dois personagens da cultura pop. Assim como Jack imagina que suas ações – citando o notório assassino de verdade – “darão luz a uma nova era” e como o serial killer da TV, Raito mata apenas os que “merecem”. Bandidos, escroques e afins.

Por fim, o mangá ainda oferece – de maneira velada – a pergunta de “um milhão de dólares” ao leitor: se você tivesse os poderes de um Death Note, usaria? E se usasse, com que motivação? Para o bem? Para obter poder? Ou para livrar sua vida dos inimigos do passado e presente?

Death Note consegue ser tudo isso, e ainda entreter como poucos mangás, ganhando apreciadores até mesmo entre os não fãs – eu por exemplo – dos “quadrinhos do avesso”.

Feita essa longa introdução, passamos ao filme. Três filmes foram realizados para cobrir toda a saga narrada nos mangás e animes e nas colunas do Senpuu, os dois primeiros serão analisados.

Os dois filmes têm “ganchos” que fazem o espectador ansiar pela conclusão da história no capítulo anterior, e tem respeito pelo material original, sendo – na medida do possível – fiel a fonte.

O primeiro filme sofre de problemas de ritmo comuns a adaptações de séries ou livros, a – já famosa no Senpuu“síndrome dos melhores momentos”, em especial em sua primeira parte, quando o filme tenta xerocar boa parte do que acontece no mangá, com exceção da introdução dos personagens principais, que difere muito – para pior – da versão original.

O roteiro também é mais simples, e os monólogos mentais de Raito e L estão quase todos suprimidos da versão live-action, o que não aconteceu na adaptação para anime por exemplo.

Um dos exemplos dessa simplificação é quando L, que sim é o maior detetive do mundo, descobre que o assassino Kira é um estudante universitário usando apenas um calendário e comparando as mortes com o horário de aula de seu principal suspeito, Raito. Precisamos suspender demais a crença (usa-se essa expressão quando o filme apresenta uma ação, ou personagem que destoa da realidade apresentada pelo filme e que pelo “bem” da continuidade, o espectador engole com alguma dificuldade) para crermos que apenas com esse elemento o detetive pudesse chegar a sua conclusão.

Outra falha é a fabulosa – no original e na adaptação em anime – seqüência do ônibus que surge no filme de forma pálida. Não existe resquício da tensão do original ou da revelação dos planos que permeiam a ação. Tudo é muito corrido e quando a seqüência revela seus segredos, se o espectador não conhecer a história previamente, vai novamente precisar “suspender suas crenças” para se sentir satisfeito com a explicação, tamanha é a incompetência registrada nesse trecho.

Em compensação a cena no metro é muito bem realizada e consegue segurar o espectador durante a ação, o mesmo acontecendo com a sequencia do “pacote de batatas” que apesar de merecer uma consideração pela improbabilidade do acontecido, é muito bem conduzida e tem um desfecho matador.

Os efeitos visuais do Shinigami, Ryuki, são ruins e apesar de tentarem trazer alguma credibilidade , peca por não terem a mão o orçamento necessário para o desenvolvimento mais elaborado da criatura feita de pixels e bites.

Os atores, como parece ser um hábito no cinema de ação japonês, são fracos ou medianos. O pior deles é o interprete de Raito (Tatsuya Fugiwara, o mesmo de Battle Royale), que não consegue transmitir a mesma indiferença com o mundo ao redor que o personagem transmitia nas demais mídias. Além disso, a opção de humanizar o personagem inserindo um romance adocicado faz Raito perder sua aura de inatingível e arrogância que é seu grande diferencial diante de outros personagens do gênero. A caracterização de sua contraparte, L, também é falha, mas merece créditos por tentar copiar os trejeitos do personagem original, o que digamos, é bastante complexo já que L é um “freak”, uma criatura estranha em meio à fauna dos personagens do mangá. Quem interpreta o personagem é Kenichi Matsuyama, o mesmo ator que deu vida nas telas ao personagem Krauser, de Detroit Metal City. Outra curiosidade é que Shigeki Hosokawa, o ator que interpreta o agente do FBI Ray, viveu o Kamen Rider Hibiki na série de TV.

Porém, apesar das falhas, o filme melhora com o decorrer do tempo, principalmente quando ele se foca na investigação da esposa de um agente do FBI sobre Kira que resulta numa seqüência num museu, inédita nos mangás e anime, de final surpreendente e revelador, que finalmente trás a tona o bom e velho Kira do material original.

O filme como toda boa série cinematográfica deixa aquele gancho pronto para a seqüência, tema da próxima coluna do Senpuu.

Abraços!


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Written By

Vulgo Mozart Gomes é o Fundador , administrador e idealizador do Senpuu. Designer Gráfico, Mozenjaa é o responsável por todas as mudanças no layout do Senpuu, tanto as boas quanto as ruins. Fã de tokusatsu desde a era manchete, resolveu consumir diariamente todo o seu amor pelo tokusatsu, criando o Senpuu.

11 Comments

11 Comments

  1. DSIan disse:

    esqueceu(ou deixou passar) q o narutaki também eh um dos policiais

  2. Mozart disse:

    Putz eh mesmo, tem que avisar o Landucci hihihihihihi

  3. Ed disse:

    Queria saber o que o Landucci achou do terceiro longa, porque pra mim foi terrivel!De resto, como eu assisti os fimes antes de ler o manga e ver o anime, achei que o Raito ter uma namorada, foi interessante, e por causa dela o primeiro filme teve um fim espetacular na minha opinião, sem contar que o L aparece com o ja conhecido saco de batatas na mão com aquele ar, eu sei que é você…

  4. Ed tudo blza?

    Eu ainda não vi o terceiro filme, mas pelo que li da sinopse ele toma várias liberdades quanto ao material original, então não sei exatamente o que pensar de antemão. Quanto ao fato da namorada do Raito dar mais humanidade ao personagem, concordo com você. Era essa a idéia – aparente – de quem estava por trás do filme, porém me pareceu superficial e pouco aproveitada. Primeiro porque no material original, Raito é um camarada gelado que não tem sentimentos por ninguém, o que é uma característica marcante do personagem. Segundo que, como o filme escolheu essa saída – dar profundidade inserindo um “par romântico” – seria interessante ver mais do casal, ver aquela história se desenvolvendo, já que mesmo antes do Death Note chegar as mãos do personagem aquele casal já existia. Quando a cena do museu acontece (SPOILERS), a impressão que me dá é que a solução foi pensada em cima da hora, querendo de qualquer jeito forçar a presença do caderno na ocasião (FIM DOS SPOILERS).
    A graça do mangá/anime é que o L sabe desde o princípio que Raito é Kira e não consegue provar sua teoria, fazendo da história uma perseguição entre as duas mentes privilegiadas dos dois personagens,

  5. Ed disse:

    tudo em cima Landucci, é de fato, pensando como você faz sentido se a cena do museu foi bolada na hora pra dar aquela impressão de que o caderno em conjunto com seu proprietario pode ser utilizado das mais variadas formas e com varias faces de sutileza, e com certeza a frieza do Raito é sua principal caracteristica, tanto que na (SPOILERS) cena que se tem após a morte do L, o close na expressão do Raito é de um manipulador de primeira categoria(fim dos SPOILERS), agora quanto ao terceiro filme, creio que como você também gostou da trama do Death Note de uma forma geral, considerara o filme mais como um SPIN OFF do que de fato algo relacionado com os anteriores…abraços Landucci, curto muito suas criticas^^ e ainda espero algo do cinema trash de baixo orçamento japones!esmo que assistir a uma dessas “pérolas” seja um sacrificio!

  6. borges disse:

    O anime é indiscutivelmente ótimo , o filme é cansativo , monotómo , os atores são ruins . Não transmitem uma ” verdade ” juz ao anime , mas pelo anime compensa ver o filme , dá pra passar o tempo .

  7. Diego Blond disse:

    Detalhe importante pra quem assitiu o anime e leu o mangá…. eu pelo menos considero o final do filme o melhor dos 3 >.< vale a pena, é um dos melhores lives q tem …tirando talvez o do kaiji

  8. Gothic disse:

    ainda não entendi qm é qm no filme ???

  9. Mozart disse:

    Como assim Gothic? Você diz os personagens?

  10. Ramires disse:

    “Indiscutivelmente” o death note se não é O é UNS dos melhores animes de todos os tempos. Eu vi os episódios desde o começo quando lançavam um a cada semana! Eu não me aguentava passar uma semana esperando os novo episódio hehe. Então, venho aqui dizer que sem nenhum preconceito ao cinema japonês que se alguma produtora de hollywood colocasse as mãos nessa OBRA com certeza eles poderiam fazer uma saga ESPETACULAR com direito até a um oscar (não sei se o oscar entrega prêmios a filmes “saga” mas sei lá) quem sabe. Fiquem a vontade de me criticar. Qualquer coisa, mandem e-mails pra discutir um pouco mais disso. OBRIGADO, nice post

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