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Midsommar – O mal não espera a noite [Crítica sem spoilers]

Pedro Mandella 5 anos ago 194

O novo trabalho de Ari Aster vem cercado de paganismo, simbologia e misticismo. Em um vilarejo esplendoroso na Suécia, acontece um festival regado de cultos, ritualidades e tradições de uma cultura ancestral de um povo receptivo e a princípio pacífico. As festividades são cercadas de símbolos, representações gráficas, cores, músicas e vivacidade.

As pessoas do vilarejo vestem roupas brancas, bordadas e delicadas, transmitindo paz e serenidade. A ambientação é incrível, com muito verde, campos vastos, montanhas cercadas de flores e um sol brilhante e incessante.

A protagonista Dani (Florence Pugh) vive uma relação desgastada com Christian (Jack Reynor), que não vê mais futuro para o casal, mas insiste no relacionamento por pena de sua companheira, devido as crises psicológicas e drama familiares que ela tem sofrido.

Christian a convida para viajar com os amigos para um festival em um vilarejo afastado na Suécia, com os familiares de seu amigo Pelle (Vilhelm Blomgren). Os quatro amigos chegam ao local e conhecem Simon (Archie Madekwe) e Connie (Ellora Torchia) um casal de britânicos que também está de férias no mesmo lugar. Tudo para eles é novo, inexplorado e encantador.

O filme é apresentado para o público assim como para os protagonistas. Sabemos tão pouco quanto eles sobre toda a cultura desse povoado. A locação e a fotografia são lindíssimas. A vila é serena e tranquila, as pessoas sorridentes e receptivas e se mostram contentes em recebe-los.

A narrativa é lenta, desabrocha aos poucos e tudo vai acontecendo sem pressa, bem devagar. Um problema de edição, ao meu ver, é que às vezes os atos se alongam demais sem necessidade tornando a história cansativa. Acompanhamos, ao mesmo tempo, o descobrimento da vivência e costumes do povoado em contraponto com os dramas e conflitos de Dani.

A princípio tudo é diferente e delicado. Os costumes, a cultura e a arte se comportam de forma muito sensível. As pinturas feitas à mão, a sutileza das flores adornando o local, a delicadeza das vestimentas, a louça simples e cristalina e a luz do sol sempre iluminando o local, tudo soma para nos ambientar a passividade.

Os protagonistas então são convidados a participar das festividades e aos poucos vamos conhecendo os cultos e cerimônias cada vez mais estranhas e bizarras. Ari Aster trabalha o terror de uma forma sutil, no desconhecido.

O filme segura a atenção do espectador e vai se desenrolando aos poucos. A apreensão toma conta e a todo momento sentimos que algo de muito errado está acontecendo ali. O amigos são drogados diversas vezes por ervas e entorpecentes locais, tornando a experiência das seitas cada vez mais tenebrosas. A direção do filme trabalha com maestria essa inlucidez. Os jogos de câmeras, os efeitos retorcidos nas imagens, tudo nos da a sensação de irrealidade, de lúdico.

Os costumes das festas, desde as refeições até o momento de dormir, tudo é estranho, bizarro e místico. Temos a sensação que a qualquer momento algo muito ruim vai acontecer e esta é a principal sacada na construção da tensão que o trabalho de Aster quer nos transmitir. As referências presentes no filme são claras, como o clássico O Homem de palha (The Wicker Man – 1973) bem como o remake O Sacrifício (The Wicker Man – 2006).

A atuação de Florence Pugh me agrada muito. Ela é talentosa e segura a personagem com muita intensidade. Aster é um diretor que, assim como em Hereditário (2018), prepara o público para um gran finale. Absolutamente em todos os momentos você está sendo preparado para algo maior.

A simbologia mais uma vez é muito presente e os detalhes são sutilmente introduzidos em todos os momentos. É um filme para ser visto mais de uma vez e merece ser discutido. Tem cenas fortes, marcantes e poderosas que são introduzidas de forma serena e sutil.

Isso é um diferencial neste trabalho, você tem uma história de terror em um lugar extremamente bonito, solar e agradável. A apreensão está justamente naquilo que você não vê, naquilo que você não está entendendo. Quando você finalmente compreende a natureza da seita e dos cultos e concebe o quão aterrorizante é o que está ocorrendo ali, você entra em pânico.

O desfecho é lúdico, fantasioso e até poético, eu diria. Traz elementos pesadíssimos e confabula com um ato final teatral e totalmente aparatoso. O encerramento se perde um pouco dentro de tantas ideias e atira para muitos lados sem um foco específico, entretanto, acerta no choque, na violência e na inquietude.

Definitivamente, assim como Hereditário, não é um filme para um público comum, é uma obra de festivais, filtrado, grandioso, para se pensar nele por dias e , cima de tudo, absolutamente discutível.

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Written By

Viciado em cinema desde criança, apaixonado por fotografia, café, arte, doces, frio e sextas feiras. Amante da literatura e do cinema francês.

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