Em outro post eu comentei sobre as mudanças dos tokusatus devido ao tipo de geração que temos e a consequência disso na escolha dos atores.
Hoje quero falar sobre outro fator que mudou bastante a cara dos nossos heróis: o “script”. Coloco entre aspas porque não estou falando realmente do script que os atores seguem, mas sim de uma fórmula de certos elementos que são reutilizados em cada obra das franquias, caso que acontece mais fortemente nos Kamen Riders e nos Super Sentai.
Antigamente, ao começar a escrever o roteiro de uma série nova, os escritores tinham que pensar em toda a extensão dos episódios do zero, e preencher todo esse espaço com acontecimentos que justificassem o decorrer da história.
Nesse tempo, pouca coisa acontecia que mudasse algo permanentemente, salvo a eventual morte ou surgimento de um novo vilão. Quanto aos nossos heróis, eles terminavam basicamente como começavam.
Mas com o tempo, alguns temas e eventos começaram a se mostrar bem sucedidos, e com isso foram reaproveitados diversas vezes entre cada série.
Os Super Sentai têm isso muito mais definido, estamos na 36ª série ininterrupta e temos o aparecimento de um membro extra por volta do episódio 16, um monstro indestrutível que precisa de um power-up e/ou um novo mecha por volta do episódio 25, os inimigos ficam mais fortes por volta do 30, o que pode causar um novo mecha ou um gattai dos anteriores lá por volta do 35, etc.
À primeira vista isso pode parecer ruim por causar uma mesmice que, de fato, por vezes acontece, mas também traz benefícios. Esses pontos servem como checkpoints para os escritores, então eles sabem que têm que levar a história por cada um deles, o que torna a escrita mais fácil e coesa.
Por exemplo, dois sentais que eu acho que têm roteiros igualmente fracos são Goggle V e Goseiger. Na minha opinião, ambas são séries fracas e por motivos similares, sendo que dentre as duas, considero Goseiger melhor. Porque? Esses eventos padrões, em especial o aparecimento do sexto integrante e dos novos mechas, foram interessantes e modificaram a dinâmica da série. Nada muito drástico aconteceu em Goggle V salvo pelo aparecimento do Desmark.
Me atento novamente às duas franquias, reparem que o número de sentais e riders ruins diminuiu. Tem alguns que você pode falar que são medianos, ou esquecíveis até, mas ruins mesmo são poucos. Essa fórmula traz uma certa segurança para os escritores, e até mais para os produtores, visto que no pior dos casos as séries ainda serão sucesso e darão retorno financeiro. Acho que não devemos questionar algo que faz com que nossas séries favoritas continuem no ar por muito tempo.
Por outro lado, isso traz um problema. Os escritores muitas vezes tomam o caminho seguro, o que significa que enquanto não teremos muitas séries ruins, também não teremos tantas séries excelentes. Todo tokusatsu tem pontos altos, mas muitos usam como esses pontos os acontecimentos que já esperamos acontecer. Com isso, não tem surpresa.
Boukenger foi uma série muito boa, que eu gostei bastante, mas que por conta deste mal, não deu aquele salto para ser uma produção realmente fantástica. Quem é da geração Manchete se lembra do momento em que o Flash King caiu. Ninguém esperava por aquilo, então todo mundo colou na cadeira. Na rua, era o assunto do momento. É esse tipo de surpresa, de deixar o espectador colado na tela sem respirar que falta em muitas séries novas.
Mas sim, é possível fazer isso e manter o padrão das séries. Em Shinkenger, tivemos tudo aquilo que esperamos de um sentai, com o aparecimento do ShinkenGold e do MogyuDaiOh por exemplo, e todos esses acontecimentos foram bem bacanas. Ao mesmo tempo, a série trouxe realmente algo de novo e inédito com o aparcimento da Kaoru. Pra quem não viu, não vou dar spoiler, mas o sentimento que eu tive quando ela apareceu foi bem próximo da destruição do Flash King, e acrescentou bastante à série.
E revendo este sentai um tempo depois, dá pra ver que isso não foi um gimmick, foi algo pensando e que, sabendo disso desde o começo, a série faz todo sentido. Kamen Rider W fez algo similar, mas que levou ainda mais longe. Essas séries ousaram, fizeram algo diferente e estas sim foram épicas.
Temos que ser muito gratos que nossas séries encontraram a fórmula do sucesso. Acho que hoje essas franquias estão mais fortes que nunca, com grande público, filmes com orçamentos cada vez melhores, e apoio dos produtores.
Só espero que os escritores não vejam isso como desculpa para cair na mesmice. Não acredito que seja o caso, ao menos não agora. Temos duas séries muito boas no momento, mesmo que não sejam revolucionárias.
Go-Busters até ousou mais no começo, agora está caindo mais para o padrão, porém ainda espero muito, visto que tem como escritora principal a excelente Yasuko Kobayashi. Fourze já está bem mais conservador, com uma execução primorosa, além de ter como um dos escritores Riku Sanjo, de Kamen Rider W. Que venham mais clássicos!
O ep 48 de W me fez chora.
Somos dois, @Destruidor1890!
E eu costumo brincar que se me fez chorar, é porque é bom! Huahuahua!
Falou tudo Destruidor1890. Essa trama do W que culminou no episódio 48 é exatamente o tipo de coisa que faz a série pular para o reino do épico.
Todos choramos na reta final de W. Parecíamos senhoras que assistem novela.
No que tange aos roteiros, parte da evolução se deve aos avanços das mídias audiovisuais, pense bem: Imagina em 1994 o que você faria se perdesse um capítulo importante de Kamen Rider Black? Imagina hoje o que você faz se perder um capítulo de W? Você corre para a internet. A estrutura antiga funciona com capítulos auto-contidos que fazem parte de uma trama maior, qualquer evento relevante é explicado a exaustão, permitindo que novos espectadores entrem no meio da série e permitindo os se dar ao luxo de perder um ou outro episódio, similar a uma novela da Globo (comecei a acompanhar a novela das 8 em Julho agora, sem problemas). Na estrutura de hoje, tudo é intercalado, um episódio tem como pré-requisito os anteriores, se alguém ouviu falar da série quando ela está no episódio 15, ela precisa dos anteriores, mas hoje, consegui-los é mais fácil que antigamente, similar a seriados.
Sobre o sexto ranger, segundo robôs e afins: Tudo bem que nas primeiras séries foram coisas que provocaram alvoroço, mas hoje caiu no senso comum, acho até que se fizerem uma série onde os cincos começam, terminam, e somente usam o primeiro robô, ficarei pasmo, certamente.
Quanto a política de Power-ups, eu não sou entusiasta. De fato há a necessidade de aumentar o desafio para os heróis no meio da série e que assim eles venham a se superarem, se tornarem mais poderosos para enfrentarem um desafio maior. Contudo, convenhamos, parte disto é para vender bonequinhos. Sei lá, acho que o herói simplesmente poderia se tornar algo melhor e mais forte sem a necessidade de mostrar isto na forma física dele. De certa forma os Power-ups é bem relacionado com o mundo do videogame, hoje no Devil May Cry o Dante do começo do jogo é só um cara com espada enquanto no fim ele possui uma porrada de upgrade, enquanto no Castlevania do Nintendinho, Simon Belmonte do começo era o mesmo cara do fim, com a mesma arma, mesma força e resistência física, mas há ainda sim uma curva de evolução do personagem (jogador) conforme a dificuldade acentua.
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