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Desobediência [Crítica sem spoilers]

Pedro Mandella 6 anos ago 0 3

Ronit (Rachel Weisz) precisa voltar para sua cidade natal após a morte de seu pai distante – um rabino. Mas ela causa um rebuliço no pacato local ao recordar uma paixão proibida pela melhor amiga de infância que atualmente é casada com seu primo.

Em uma obra fascinante de Sebastián Lelio após dirigir Uma Mulher Fantástica (2017), vemos mais uma vez a sensibilidade do diretor ao retratar o universo feminino. Os contextos de Desobediência exploram muito mais que a sexualidade, fazem uma analogia entre a cultura judaica e a submissão feminina com a fronteira da liberdade e descrença religiosa, tudo de uma forma cautelosa.

Esti (Rachel McAdams) é prisioneira de si própria, amargurada pela pressão a que sempre cedeu de cumprir os ensinamentos religiosos de sua comunidade, vive uma vida submissa e recatada, reprimindo sua sexualidade e desviando-se das paixões do passado. Já Ronit é uma mulher livre e infeliz, filha de um mestre religioso judeu e totalmente sem um propósito na vida causado pela culpa de ter abandonado seu pai e os ensinamentos do judaísmo.

Vamos começar destacando o trabalho encantador das Rachels neste longa. Uma preparação absoluta e uma entrega genuína em seus personagens. A tensão entre as duas quase palpável. O filme possui um silêncio inquietante, os olhares gritam o que as palavras não falam. Há conflitos nos gestos, nos toques. As respirações são medidas, desprovidas. Os personagens sentem medo da presença uns dos outros.

O roteiro é meticuloso, tem uma evolução discreta, mas que preenche e instiga. O filme perturba e incomoda, positivamente falando. A relação entre elas, a princípio, é nublada, o público não sabe o que esperar. Há uma dispersão entre a paixão fervorosa adormecida e um luto que precisa ser sentido, um conflito pessoal, interno, os sentimentos brigam entre si, se atropelam.

A história é um pouco crua, não intenciona o passado, não necessita explicar outros contextos. A intensidade da relação entre elas fala por si só, conta a história. Dovid (Alessandro Nivola) tem um trabalho brilhante dentro de todo esse contexto. É sábio e consegue usar de empatia mesmo tratando de sua vida pessoal, seu discurso final é tocante. A trilha sonora do filme é fria, equilibrada assim como a ambientação e fotografia, apenas para ressaltar, não encobre a intensidade das cenas, isso é proposital e genial.

A história em si é uma desconstrução da passionalidade, vai além. É sensível e tocante onde deve ser e, ao mesmo tempo, extremamente realista. Uma obra prima que exige muita sensibilidade. Assistam!

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Written By

Viciado em cinema desde criança, apaixonado por fotografia, café, arte, doces, frio e sextas feiras. Amante da literatura e do cinema francês.

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