Menu

Red Sparrow [Crítica sem spoiler]

Gabriela Rosa 6 anos ago 0 14

Primeiro reencontro de Jennifer Lawrence e Francis Lawrence depois de Jogos Vorazes, Red Sparrow traz uma trama envolvente, mas com problemas

Não se engane, Red Sparrow consegue manter o telespectador grudado na tela em suas quase duas horas e meia de duração. A trama de uma bailarina do Bolshoi, Dominika Ergonova (Jennifer Lawrence), que é forçada a terminar sua carreira precocemente e se tornar uma espiã russa é envolvente. A personagem de JLaw é imprevisível e muitos plot twists forçam você a ficar atento a cada detalhe procurando entender quem realmente é aquela mulher.

Só que, ser envolvente não quer dizer que não ter problemas. O filme é de espionagem e, ao que se presta, consegue entregar. Mas a premissa, com um potencial absurdo, é reduzida a saídas fáceis, motivações fracas e à contenda que se estende desde 1950:  bom americano x mau russo.

Red Sparrow é dividido em duas linhas narrativas que se encontram logo no começo. Buscando proteger mundo, de um lado estão os americanos, personificados no agente da CIA Nate Nash (Joel Edgertone), que infiltrados no Leste Europeu investigam a Rússia; dos outros estão os russos, que aparentemente buscam a dominação mundial.  Uma frase, logo no começo do filme explica bem em que se baseia a narrativa e muitos dos arquétipos invocados e reforçados por Francis Lawrence, o diretor, e Justin Haythe, o roteirista: “A Guerra Fria não acabou”. E esse é o tom do filme: as tensões entre Rússia e Estados Unidos continuam e para se adequar ao mundo contemporâneo diversos mecanismos foram desenvolvidos.

As sparrow (e os sparrow) são uma arma, se não nova, atualizada. Homens e mulheres russos treinados para seduzir e assim retirar informações das pessoas mais  poderosas da sociedade ocidental em seus momentos de maior vulnerabilidade, atendendo às suas fantasias mais escusas. Jennifer Lawrence, que provavelmente passa quase o mesmo tempo de tela pelada/seminua e vestida, entrega uma Dominika imprevisível e determinada que se esforça para lidar com sua condição de sparrow. A atriz faz um trabalho ok e consegue representar a violência, a sensualidade e a dissimulação que são esperadas de sua personagem.

Aparentemente, seu maior antagonista é o agente secreto americano Nate Nash, que tem muita intuição e um código moral fortíssimo. A construção desse personagem é um dos problemas desse filme, já que Nash se resume a isso e outras qualidades esperadas de um agente da CIA como inteligência, determinação,  pesquisa e levantamento de dados, por exemplo, são deixadas em segundo plano. E é justamente nessa super simplificação do agente secreto americano que está outra inclinação ideológica do filme: americanos que pelo menos podem aspirar por liberdade individual vs russos que nascem e morrem para servir o estado.

Todas essas discussões ideológicas também estão nos figurinos (Trish Summerville) e na ambientação (Maria Djurkovic), otimamente estabelecidos. No Leste Europeu, os personagens viajam por alguns países e, principalmente na Rússia, se tem a clara impressão de que a ditadura comunista acabou, mas muita coisa permanece. As cores pálidas, um certo ar de anacronismo nos móveis, nos prédios e nas roupas, mostram que o capitalismo contemporâneo ainda não dominou cada centímetro da vida das pessoas. Tudo é feito para transformar esses países em lugares inóspitos. O figurino da protagonista é, por si, só uma atração.

Como era de se esperar de um filme de espiões, há também muita violência em cenas de luta bem coreografadas e dirigidas. A ação está centrada em Dominika que com sua imprevisibilidade em cenas de luta mostra que é muito mais do que aparenta. Alias, todo o filme é Dominika, a personagem mais bem desenvolvida na trama, o que, sinceramente, não é muita coisa.

Por ser uma história cheia de reviravoltas, o roteiro deve ser bem fechado, com personagens bem desenvolvidos e isso não se vê em Red Sparrow. Muitas vezes você vai se pegar pensando: “Mas porquê ele tá fazendo isso?” “Ele/Ela acreditou? Não acreditou?”. Essas indagações indicam que a trama é fraca assim como o desenvolvimento dos personagens que não têm boas motivações, além de uma história que não foi bem amarrada. Juntos, esses fatores fazem o espectador ficar sentado na cadeira, olhando atentamente, buscando respostas. Respostas que muitas vezes não vêm.

 

– Advertisement – BuzzMag Ad
Written By

Leave a Reply

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

– Advertisement – BuzzMag Ad