IWAKI, Japão. Kiyoko Okoshi tinha uma meta simples quando gastou US$ 625 (R$ 977) em um dosímetro – aparelho que mede a radiação. Ela tinha saudades de seus netos e queria que eles voltassem para casa.
Autoridades locais afirmaram, várias vezes, que a vila em que mora, que fica a cerca de 30 km da usina nuclear de Fukishima, estava a salvo dos efeitos da radiação. Sua filha, porém, suspeita da situação, principalmente porque ninguém do governo apareceu para fazer medições oficiais na região.
Em abril, Okoshi começou a usar o dosímetro para verificar as estradas e arrozais nos arredores da cidade, e o que descobriu foi assustador. Próximo a uma vala de esgoto, o medidor apitava incessantemente. A tela apontava 67 microsieverts por hora, um nível possivelmente problemático de radiação. Ela confrontou agentes do governo local, mas não obteve respostas. Com seu ato simples, porém ousado, Okoshi se juntou a um pequeno número de pessoas que decidiram tomar providências enquanto o governo se atrapalha na tentativa de conter a contaminação, que os líderes reconhecem ser pior que o imaginado.
Seminários sobre a utilização do dosímetro estão sendo ministrados em Tóquio, e pessoas acabam tendo que voltar para a casa por excesso de público. Alguns burocratas também têm tomado iniciativas sem apoio do governo. Em pequenas cidades na região de Fukushima, eles limpam o solo em jardins de escolas locais. Tal ativismo é extraordinário em um lugar em que as pessoas geralmente confiam que seus líderes fazem de tudo para cuidar dos cidadãos.
Baseada no medo e no desespero, a fé nos líderes tem sido corroída pela noção de que, na melhor das hipóteses, os funcionários do governo estão chocados com a enormidade do desastre e, na pior delas, que eles estão escondendo o quão terrível a situação realmente é.
Segundo o professor de ciências políticas da Universidade de Columbia, Gerald Curtis, “o que a febre de dosímetros revela é que a população está cada vez mais inquieta com relação aos perigos da radiação”.
Episódios
– Recentemente, um conselheiro do governo japonês se demitiu durante uma coletiva de imprensa quando, com lágrimas nos olhos, declarou que não queria que as crianças fossem expostas aos níveis de radiação considerados “seguros” pelo governo.
– Um funcionário do Ministério da Saúde do país também se desvinculou do governo quando, injuriado, percebeu uma lenta resposta sobre a contenção dos efeitos da radiação, o que só piorava a situação dos japoneses e do mundo.
Vento e relevo influenciam contaminação
Com a ineficiência do governo, os habitantes das pequenas vilas japonesas buscam reforços. Kazuyoshi Sato, vereador declaradamente contra as usinas nucleares e, durante muito tempo, impopular em cidades onde a maioria dos empregos era gerada nesses locais, ao analisar um mapa de leituras de solo elaborado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos e pelo governo japonês, notou uma mancha amarela sobre a vila Shidamyo, uma indicação de altos níveis de césio 134 e césio 137.
Segundo o especialista em radiação Shinzo Kimura, condições naturais influenciam o trajeto da radiação. Apesar de os arredores de Fukushima apresentarem baixos níveis de material radioativo, amostras retiradas do solo em fazendas da região apresentam níveis tão altos quanto os encontrados na zona evacuada ao redor de Chernobyl, onde aconteceu o acidente nuclear, na Ucrânia. (KB/YK/NYT)
Texto publicado no site do jornal “O Tempo”, com tradução de Luiza Andrade
O fato é que passaram-se meses e esquecemos dos problemas de lá. É uma pena…obrigado Patrine por nos alertar de certa forma sobre o que ainda vivem essas pessoas lá.
É Fire, eu achei interessante exatamente por isso. Acesso sites de notícias locais aqui de Minas Gerais todos os dias e O Tempo abrir espaço pra isso foi muito bacana. E ainda por cima é uma maneira de vermos como as pessoas lutam pra sobreviver, em condições que nós nem podemos imaginar como são..! Espero que sirva de exemplo e inspiração para nossos leitores.