DragonBall Evolution – Crítica

Texto: Alexandre Landucci

Quando se faz uma análise de um trabalho artístico é impossível – e até covarde – desvinculá-lo do contexto onde ele está inserido. Contexto histórico, cultural e social é tão importante para a análise de uma obra quanto o conhecimento técnico para avaliações mais profundas sobre a estética ou narrativa. Devemos sempre colocar a obra em “crise”. Questionar os prós e contras do que vemos e aí sim elaborarmos nossas considerações, levando sempre em conta esses fatores. Por isso não devemos julgar um filme mudo com efeitos visuais de papelão da mesma forma que apreciamos o visual de Pandora em Avatar. Tudo é uma questão de colocar a obra dentro do contexto que foi produzida e ai sim analisá-la.

No último Senpuucast que participei (sobre Suppaidaman) falamos um pouco sobre a questão do contexto para uma melhor análise da obra e o quanto ela é importante como fonte de dados e de referência. Também falamos que, no caso de transpormos uma obra para um contexto diferente, devemos dar esse crédito para o realizador. Afinal, é injusto cobrar que mudando elementos tão importantes numa obra, tenhamos resultados iguais aos da obra original.

Esse é o caso de Dragonball Evolution, que tira o mangá/anime de seu “habitat” e o insere em outra realidade. Realidade essa que é completamente diferente da obra original. No mesmo cast falamos que esse tipo de produção deve ser analisada pelos seus próprios méritos e ser inserida no balaio a que pertence. Ou seja, Dragonball Evolution não pode ser comparado ao mangá (por serem linguagens diferentes) e nem as produções de ação nipônicas (por se trata de uma produção de outro país) e nem mesmo ao anime (por razões óbvias de produção, caracterização, tempo de duração da série). Devemos comparar o filme aos demais filmes de ação/super-heróis americanos.

Nessa comparação Dragonball Evolution é uma piada ambulante. Além da construção de roteiro que falha ao não estabelecer um protagonista forte (ou mesmo simpático) mergulha o filme numa sucessão de clichês dos tais filmes de ação, sem um pingo de qualidade ou mesmo originalidade.

Somado a isso está a infeliz escolha do cast que faz um ator como Chow Yun-Fat (de produções de ação de John Woo, Tigre e o Dragão e da série Piratas do Caribe) passar vergonha ao lado de insossos protagonistas como Emmy Rossum e principalmente Justin Chatwin (o trocadilho com o sobrenome é quase obrigatório) que em nenhum momento consegue transformar Goku em algo mais do que um garoto bobalhão e nervosinho.

A construção do vilão é outro ponto falho. James Marsters – embaixo de uma ridícula caracterização – passa o filme tentando convencer a si mesmo de que é um vilão. A pose de vilão e a voz empostada não podem fazer tudo se por trás disso não houver um bom texto ou mesmo um bom ator.

Mas tudo isso poderia ser minimizado (e encarado numa boa) caso a história do incompetente Ben Ramsey fosse boa. E ela não é. Simples assim. Ele não respeita o material original (que é o básico em qualquer roteiro) e ao escolher abandonar boa parte da caracterização cômica e leve do mangá não consegue transformar seu filme em algo diferente das outras produções americanas que abordam personagens com super poderes. Ela se leva muito a sério e quer vender a história de Dragonball como se estivéssemos vendo Homem Aranha por exemplo. São realidades e materiais diferentes.

O que difere Goku de Super-Homem? Ou pior, de Clark Kent em Smallville? Segundo a “bíblia” de Ramsey nada. Já que para o autor do roteiro Goku poderia morar em Smallville tranquilamente e dar “uns pegas” em Lana Lang sem o menor problema.

Esse tipo de mudança brusca (o mesmo que vemos no Suppaidaman) é que faz a obra cair na mesmice. Se em Suppaidaman tínhamos a tentativa de inserir a marca Homem Aranha no mundo toku – resultando em algo apenas mediano – aqui temos uma tentativa parecida mas com resultados ainda piores devido à tentativa de se levar a sério e na pretensão global de alcance que o filme tem. Os que são fãs do mangá obviamente ficaram ofendidos ao verem retratados de maneira tão “tosca” seus personagens favoritos e aqueles que não conheciam a obra não tiveram motivos para comemorar já que Dragonball não passa de uma notinha mínima (e apagada) na história dos filmes de heróis.

Rodado com orçamento apertado para os padrões americanos (e que fica claro nas cenas de ação genéricas) Dragonball não cumpre nem mesmo o requisito mais chulo nesse tipo de produção: a risada involuntária. É um filme que não causa nenhum impacto emocional. Nem mesmo raiva o espectador consegue ter. Talvez pena, pena de quem esteve envolvido, pena dos atores que ficaram marcados com essa péssima produção e principalmente pena dos fãs, aqueles que mesmo sabendo que o filme seria ruim foram ao cinema e pagaram para terem duas horas de diversão leve e escapista (o que o cinema também deve proporcionar) e não conseguiram nem isso.

Talvez seja a prova cabal de que não devemos descontextualizar os objetos de seus “lares”. Ou talvez não. O caso é que na maioria das vezes esse tipo de opção tem resultados ruins, já que não consegue agradar nem gregos ou troianos.