Em Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, a magia fica em segundo plano para evidenciar o que realmente encanta: os personagens e suas tramas.
O mundo deveria ser governado pelos lufanos, já que, como dizem Dumbledore e J.K Rolling, eles fazem as coisas certas não por desejar poder ou glória. Eles fazem o certo porque é o certo a se fazer. Talvez esse seja o grande ensinamento que o novo protagonista de J.K. Rowling, Newt Scamender, vivido com um carisma impar por Eddie Redmayne, traz ao mundo mágico e ao mundo trouxa. Talvez por isso ele seja a salvação na guerra que se aproxima ao final de Animais Fantásticos e os crimes de Grindelwald.
Se recusando a escolher lados, Newt parte em mais uma jornada pelo mundo. Seus esforços são para conter os avanços de Grindelwald (Johnny Depp), que, obviamente, escapa da prisão e continua a inflamar os sangues puros contra os demais magos e os não mágicos. A chave para isso é encontrar Credence Barebone (Ezra Miller), e mantê-lo em segurança.
Acontece que agora, tudo está mais escuro, mais sombrio, principalmente os detalhes. Este escurecimento é resultado tanto de um trabalho de fotografia quanto de figurino. O casaco azul que Newt usa no primeiro filme, por exemplo, dá lugar a um cinza. De resto, quase todos os personagens se apresentam de preto ou cores bem escuras. Principalmente entre os seguidores das trevas, obviamente.
Isso torna mais grave o tom do filme, uma chuva insistente também inspira certa tristeza. Até Quinnie (Alison Sudol) infelizmente, perde sua cor. Os tons de rosa, de vermelho, vão saindo pouco a pouco dela.
Um ponto de cor, em todos os sentidos, é Dumbledore (Jude Law). Mesmo que afetado pelos movimentos das trevas, mantém suas vestes marrons. Law sobrevive à pressão de dar vida a um dos mais amados personagens da franquia e apresenta um Dumbledore que ainda não é o mago que vai guiar Harry, mas, com certeza, pode ser ele. É ele, definitivamente, a melhor novidade da série.
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald acerta ainda ao, mais do que o primeiro, falar para os jovens adultos. Em jogo estão relações familiares e amorosas complicadas de indivíduos que são protagonistas de suas vidas e têm que lidar com as escolhas que fizeram. Adultos que saíram da escola e hoje sabem que muito do que foi sofrido ali pode ser esquecido, embora algumas coisas fiquem para sempre. Adultos que cresceram abandonados, amaldiçoados, mas que têm maturidade para reconhecerem-se responsáveis pelos próprios caminhos.
O longa reforça, também, a relação entre a Guerra do Mundo Mágico e a Segunda Guerra Mundial. Grindewald rege o medo maestralmente e é impossível não fazer relações entre ele e diversos ditadores autoritários e xenófobos ao longo da história do mundo e que parecem estar ascendendo, novamente, ao poder.
Talvez esteja aí o grande erro do filme. Na ânsia de evidenciar como muitos podem ser influenciados pelas trevas, acaba por trair a natureza de seus personagens, negar o que foi feito no primeiro longa e esquecer elementos importantíssimos da trama. É por isso que, por vezes, a história encontra soluções rasas para assuntos complicados.
Nesse sentido, a personagem Tina (Katherine Waterston), é maior vítima. Basicamente, a única relação profunda que ela mantém é com Newt. Os laços fortes que manteve com Credence e sua irmã são esquecidos. Na ansiedade de apresentar tantos links novos, que apontam para o passado e também para o futuro que vemos na série Harry Potter, o filme também se esquece de resolver muitas das plots que são desenvolvidas.
Além disso, quem ficou encantando com o novo mundo mágico que Newt apresentou no primeiro longa pode ficar decepcionado. Dessa vez são menos animais, menos mágica, menos elementos fantásticos desconhecidos. Mas a ausência é compreensível. Esse é um filme do meio, em que é necessário pavimentar o caminho para os próximos longas, introduzir novas pessoas, explicar, um pouco melhor pelo menos, enigmas apresentados no primeiro filme. Há que reconhecer que o mundo mágico já está bem estabelecido no imaginário dos espectadores, por isso, muito do que um dia foi considerado incrível hoje pode ser percebido apenas como normal.
O que é inegável é que Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald vai mudar completamente como alguns dos principais personagens da saga são vistos, vai mudar também todo o futuro da série. E, não se engane, uma guerra está por vir e TODOS irão encontrar um jeito de lutar.
Torçamos para que Newt Scamander seja capaz de influenciar o maior número de pessoas a fazer o certo porque é o certo a fazer e que os Governantes, do ministério e da Makusa não sejam mais uma vez cegados pela necessidade de manter o poder.