Meu Malvado Favorito 2
(Despicable Me 2, 2013)
Comédia – 98 min.
Direção: Pierre Coffin e Chris Renaud
Roteiro: Ken Daurio e Cinco Paul
com as vozes de: Steve Carell, Kristen Wiig, Benjamin Bratt
Confesso que não fui atraído com a mesma paixão que muita gente demonstrou pelo filme original de Pierre Coffin e Chris Renaud, mesmo reconhecendo sua historia simpática, seu herói/vilão Gru interessante, as pequenas Margo, Edith e Agnes e principalmente os hilariantes Minions. O que o pessoal da Illumination Entertainment criou no filme original foram criaturinhas adoráveis e que podem ser utilizadas ad infinitum tanto nas animações como em uma quantidade obscena de produtos de merchandising.
Ou seja, os criadores têm uma mina de ouro em mãos nas figuras desses bichinhos de sexo indefinido e amarelos, esses pequenos monstrinhos que falam como se tivessem inalado gás hélio e tem uma moral que os coloca no mesmo nível dos Looney Tunes em termos de falta de noção no trato da violência e que fazem dos Minions criaturas que roubam todas as cenas.
Mas, felizmente, os Minions não são utilizados em excesso. Apesar de fundamentais na trama, a produção não segue a infeliz ideia de Era do Gelo, que usa seu esquilo a cada quinze minutos como vinheta de forma absolutamente desnecessária (e cansativa) durante todo o filme. Aqui, as piadas dos Minions estão intrinsecamente ligadas a eventos da trama. E qual é a trama da vez?
Gru é recrutado por uma organização secreta para investigar o sumiço de um misterioso soro que causa mudanças brutais no físico e no comportamento de suas cobaias. Como parceira, a atrapalhada Lucy, que serve como novo elemento cômico da trama, embora (pelo menos na versão dublada que foi a que vi) seu humor não acerte sempre. Entre os novos personagens se destaca o bonachão e misterioso Eduardo (que em português ganha a voz do cantor Sidney Magal, em um trabalho muito competente e divertido) com seu visual “luchador” mexicano.
Porém, apesar da trama de investigação – que leva Gru a assumir uma identidade “secreta” num shopping center – impulsionar o início da história, são de fato os dramas dos personagens que fazem a historia funcionar. Se no primeiro filme sua baixa estima o transformou em um vilão e apenas com a acolhida das pequenas órfãs sua vida passou a ter outros significados, aqui o mote é sua dificuldade para se relacionar com as mulheres. Se Gru tem problemas para encontrar uma “alma gêmea”, mostra-se um pai muito ciumento ao ver a garotinha nerd Margo descobrir o amor. Essa questão apresentada no filme dá mais tridimensionalidade ao personagem, já que esse tipo de ciúme paterno em relação aos filhos é deveras comum.
A pequena Agnes continua sendo a alma do filme, sempre pronta a demolir Gru (e os marmanjos com alguma sensibilidade) com aquelas declarações que só crianças são capazes de fazer, misturando ingenuidade e sabedoria. Posso estar exagerando nas intenções do texto de Ken Daurio e Cinco Paul, mas existe aqui algo um pouco mais elaborado do que simplesmente algumas boas piadas e referências um pouco mais intrincadas para os adultos.
Isso já havia me chamado a atenção no primeiro Malvado Favorito e mesmo não estando (permitam-me a redundância) no grupo de grandes fãs do filme – muito por causa do antagonista enfadonho dessa primeira aventura – ficou claro a qualidade da interação (mesmo que pueril) entre Gru e as meninas que estão longe de exemplificarem os papéis óbvios de garotinhas no cinema. Acho que esse é um elemento fundamental para que o filme consiga funcionar tão bem para um público tão amplo: você enxerga ali um afeto real, ancorado – evidentemente – por sacadas humorísticas funcionais e pelos Minions, essas criaturas que pontuam muito bem as agruras do pobre Gru.
Meu Malvado Favorito 2 é um passo bem dado em direção a uma franquia, que parece estar estabelecida. Ao final dessa segunda historia algumas possibilidades ficam em aberto para uma eventual sequência. Todas elas envolvem novos conflitos entre Gru e seus traumas (e agora com o acréscimo de eventuais consequências para seu futuro) e é claro, muitos Minions. Não chega a ser uma animação de excelência, mas é divertida e tem estilo próprio, não tentando nem ser Pixar, muito menos cair na galhofa da maioria dos trabalhos da Blue Sky ou Dreamworks.