Traduzir o trabalho de um livro aclamado em uma produção cinematrográfica, não é nem de longe uma tarefa fácil. Além de ser uma grande responsabilidade tentar reproduzir ou adaptar centenas de páginas em duas ou três horas de filme é, sobretudo, arriscado.
A linha entre um grande sucesso e um completo desastre é tênue e extremamente delicada. O que a direção de John Crowley tenta transmitir em O Pintassilgo, talvez tenha se perdido entre as muitas intenções de passar algo que só fica na promessa.
Theodore Decker (Ansel Elgort) é um garoto que sobrevive a um ataque terrorista em um museu em Nova York. Após perder a mãe, se vê obrigado a viver pelo fantasma da culpa, da carência e da ausência do pai e da caridade de Mrs. Barbour (Nicole Kidman) e sua família.
O garoto se salva da tragédia levando consigo a tela “O Pintassilgo”, pintura do holandês Carel Fabritius e, junto com ela um trauma, o medo e um segredo.
Acontece que a narrativa, em alguns momentos, até se mostra interessante. Temos vontade de acompanhar o trauma de Theo e entender seus porquês. Entretanto, há um dilema entre a edição, que não é precisa e se perde, e o roteiro, que vai ficando cada vez mais enevoado. Por se tratar de uma história tensa, de luto e traumática, o filme falha em representar os sentimentos de Theo.
A direção se contradiz, com artifícios mal empregados que tornam os acontecimentos involuntários. Temos a sensação de que o filme está trabalhando, aos poucos, o público para algo maior, um clímax que não chega.
Nada acontece. E quando digo sobre como Crowley se perde em sua intenção, digo com pesar, pois o envolvimento dos atores no filme existe.
Há uma tensão de modo geral e durante os 149 minutos de filme sentimos como se todos os personagens estivem envoltos na tristeza do protagonista. Ao mesmo tempo, as outras ligações do filme como os segredos do pai, a transição dos sentimento de Theo, a amizade com Boris (Finn Wolfhard), tudo é inconsistente, pouco explorado e não funciona.
Eu descreveria O Pintassilgo como um emaranhado. Mesmo havendo empenho dos personagens, a história não é forte o suficiente para convencer o público.
Há muitas lacunas não preenchidas e o ato final é um buraco vazio no qual o público fica sem entender o que está assistindo.
Os personagens são pouco carismáticos, os acontecimentos desalinhados e o que poderia nos fazer pensar posteriormente é tedioso e cai no esquecimento. Uma pena.