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Jobs [Crítica]

Alexandre Landucci 11 anos ago 0 33

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(jOBS, 2013)
Drama – 128 min.
Direção: Joshua Michael Stern
Roteiro: Matt Whiteley
com: Ashton Kutcher, Josh Gad, Dermot Mulroney, Matthew Modine, J.K. Simmons

Falar da importância de Steve Jobs para a humanidade é chover no molhado. E se você acha que a expressão “importante para a humanidade” é exagerada, imagine que sem o tio Steve você jamais estaria lendo esse texto em seu micro-computador da forma como está fazendo nesse exato momento. Talvez o micro-computador viesse a existir, mas não do jeito que conhecemos hoje. Steve Jobs era um revolucionário, um dos sujeitos que pensava sempre “fora da caixa” e um modelo para todo mundo que quer de fato, fazer a diferença. É uma inspiração para toda uma geração de empreendedores, empresários, trabalhadores da comunicação e tecnologia e – porque não – de todos aqueles que se cansaram de serem apenas mais um número.

Por isso, é bastante compreensível toda a comoção sobre a cine-biografia do fundador da Apple. Dá pra entender também as reclamações quando o nome de Ashton Kutcher foi confirmado como o interprete de Jobs. Afinal, Kutcher é mais conhecido por ser uma “celebridade” do que por trabalhos de qualidade, que pesem (antes que seja xingado por aqui) os bons desempenhos em Efeito Borboleta e na serie de TV That’s 70 Show. Apesar da semelhança física (e que nas imagens divulgadas ficaram cada vez mais evidentes) o receio quanto ao desempenho de Kutcher ressabiou muita gente que aguardava a produção.

Pois bem, Kutcher se esforça demais. Imita a forma de andar, limita seus cacoetes interpretativos ao mínimo e por vezes consegue até emocionar, principalmente quando interpreta os discursos motivacionais que Jobs fez em sua vida. Mas, não consegue impedir que o roteiro (o calcanhar de Aquiles da produção) imploda o filme. Roteiro esse, que salta no tempo entre diferentes momentos da vida de Jobs sem se preocupar muito em ligar os pontos entre as perguntas feitas pelo filme.

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Por exemplo, e revelando levemente alguns spoilers: Jobs tem uma filha que durante parte da projeção ignora e chega arenegar. Porém, quando finalmente somos apresentados a garota, Jobs e a menina parecem felizes e vivendo um clima de amor e alegria. O que aconteceu nesse meio tempo? Como as arestas foram superadas? Outro grande problema do roteiro é que por mais que tente ser neutro e apresente Jobs como um sujeito de difícil convivência, com problemas de relacionamentos comuns e crises de ego, muito é deixado de lado para que a cinebiografia tenha um ar de oficial. Por isso, o excesso de nomes e pontas de figuras importantes para a história da Apple pululam durante a trama. Isso enfraquece a trama principal, a jornada de Jobs que de garoto “maluco” que largou tudo para ir até a Índia (em trecho em que falta maior aprofundamento) se transformou em mega empresário revolucionário.

A trama omite trechos da vida do personagem em busca de uma resolução de redenção e cheia de mensagens positivas. É ruim ou “errado”? Não. É uma opção que o roteiro de Matt Whiteley e a direção de Joshua Michael Stern decidiram seguir. Do ponto de vista narrativo até funciona ao apresentar alguns momentos de catarse emocional, porém ainda no tocante a narrativa ignora partes importantes da vida do biografado deixando de responder perguntas feitas pelo próprio filme. Jobs sai da Apple e aí? Como se reencontra financeira e afetivamente? De onde vieram seus insights? E mais, porque a projeção se encerra no momento em que se encerra? Por quê não ir além? Além disso, seus demais projetos fora da Apple foram praticamente ignorados (existe uma pequena mensão ao Nexus, mas ignora-se completamente a compra da LucasFilms e posteriormente a construção da Pixar).

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Por outro lado, a reconstituição de época é muito boa e os primórdios da Apple são muito bem ilustrados, e que se pese que falte uma coisa aqui e ali (confesso não ser um especialista no biografado), como narrativa ela funciona e você compreende tranquilamente as intenções de Stern, em apostar na historia do self-made man, tipicamente americano.

O elenco de coadjuvantes acerta mais do que erra. Josh Gad como o grande parceiro nos primeiros anos de Apple, Steve Wozniak, é o elo emocional do público com o filme. Frágil, cheio de dúvidas e servindo como “escada” em muito momentos, Gad faz um trabalho decente, embora não mereça tanto destaque quanto vem se falando por aí (ouvi boatos sobre indicação a Oscar e tudo mais). Outro que acerta é Dermot Mulroney, como o investidor Mike Markkula, que se vê dividido muitas vezes entre o apoio ao genialidade irascível de Jobs e seus compromissos empresariais com a companhia. J.K. Simmons (o mais próximo de um vilão que o filme tem) e Matthew Modine também merecem destaque, já que boa parte do desenvolvimento da produção foca-se nos problemas de Jobs com os acionistas de sua companhia, representados pelos dois atores.

Jobs, em resumo, ganha pontos com o legitimo esforço mimetizador de Ashton Kutcher, que convence fisicamente como o biografado, mas não acerta ao optar pela solução simplista do recorte da vida do personagem para o interesse da narrativa. Optar por esse tipo de saída além de não parecer correto com a proposta de apresentar um retrato honesto sobre alguém que mereça tal tipo de homenagem, é ineficaz ao não conseguir responder aos questionamentos que o filme propõe. Jobs merecia coisa melhor.

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Dizem que é crítico de cinema, dizem que é um cara legal e dizem também que pode ser bem ranzinza. Outros, no entanto, dizem que "as vezes" ele acerta no que fala, enquanto outros - ele deve pagar essas pessoas - gostam do trabalho dele. Fã de Galactica, Doctor Who, Hayao Miyazaki, David Cronenberg, Dario Argento, Orson Welles, Grant Morrison, Neil Gaiman e comprador compulsivo de filmes.

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