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Em Transe [Crítica]

Alexandre Landucci 12 anos ago 0 75

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(Trance, 2013)
Drama/Thriller – 101 min.

Direção: Danny Boyle
Roteiro: Joe Ahearne, John Hodge

com: James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel

crítica: Alexandre Landucci

Entre aqueles colegas e amigos, devo ser um dos poucos que realmente gostou de 127 Horas. Em geral gosto de Danny Boyle, acho-o criativo no uso dos excessos, seja ele do som – em geral altíssimo, da montagem – em geral acelerada, dos temas – em geral multifacetados e das interpretações – em geral beirando over acting. Essa é a sua forma de fazer cinema e diante de Trainspotting, Cova Rasa, Extermínio e até mesmo Caiu do Céu, trabalhos muito interessantes – e diferentes um do outro – sua competência está provada. Que pese ainda o seu Oscar por Quem quer ser um Milionário (que eu particularmente não gosto) e o já citado 127 Horas, dois filmes que dividiram bastante o público e crítica, o diretor é bem sucedido e goza do respeito dos colegas e críticos.

Toda essa introdução de livro biográfico serve apenas para tentar entender em que poço Boyle se enfiou para conceber Em Transe, seu mais recente trabalho. Estruturado como filme de assalto, e posteriormente como uma produção quase onírica e por fim como “elegia da vingança”, Em Transe é um “semi-abacaxi” que pela maior parte do tempo parece uma bobagem pretensiosa, caminhando desgovernadamente sem um rumo específico.

Essa sensação de desconforto que senti é explicada pela trama. Simon (James McAvoy) é um sujeito que trabalha em leilões de arte e que durante um assalto acaba sendo atingido na cabeça e perde a memória recente. Ficamos sabendo na sequência seguinte que ele é um dos comparsas do assalto e que o quadro roubado no leilão ficou com ele. Mas ele não sabe aonde. Não se recorda com a pancada na cabeça.

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O bando liderado por Franck (Vincent Cassel), tenta de tudo e no desespero para colocar as mãos no quadro, recorre ao hipnotismo. Aleatoriamente a escolhida é a bela Elizabeth (Rosario Dawson), que tem a missão de encontrar as memórias de Simon, em meio ao caos que sua perda de memória deixou sua cabeça. A partir daí, a trama se desenrola entre os mundos da memória criados pelo rapaz e pelas descobertas na vida real.

A confusão e desorientamento da trama – não dando a impressão que vai chegar a algum lugar – é ampliada pela forma como a narrativa é apresentada. A princípio simplista (caras querem um quadro caro vs. sujeito não sabe onde está e precisa achá-lo), ganha ares épicos e grandiloquentes quando vai se destrinchando, culminando em um daqueles finais saídos do pior do cinema pop, onde tudo “tem que fazer sentido e a trama precisa ser certinha”, o que parece fazer o gosto de uma parcela generosa do público.

Esse cinema robótico não dá espaço para o próprio desenvolvimento da historia. Boyle está tão preocupado em acertar sua resolução – para que tudo “faça sentido” – que ignora que seu ato final apesar de funcionar num sentido matemático (ou seja, a trama se encaixa) em termos cinematográficos e narrativos é patética. Você caminha por 90% do tempo em uma direção para mudar tudo em um daqueles plot twists exagerados e que dão um ar de realidade fantástica a uma historia que – quando não se passa na cabeça do protagonista – é calcada no realismo em termos narrativos.

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Essa ideia beira o pedantismo, e quer dar um estofo épico a uma trama simples demais. Que pese o fato de Boyle ser um bom diretor e saber conduzir-nos por seu labirinto de referências, cores, sombras e iluminação precisa, fazendo da experiência ainda mais frustrante. Se o primeiro ato é intrigante (afinal por quê Simon quis se envolver com o crime?) e as respostas para nossos questionamentos no segundo são aceitáveis (óbvias, mas fazem sentido de forma prática) o ato final descamba para uma virtuose e exercício de estilo que – se é tradicional na filmografia de Boyle – prejudica sua história. E tudo começa na imagem mais impactante de toda a trama, um trabalho magnífico da equipe dos efeitos visuais do filme. A partir daí, com a quebra violenta entre real e imaginário, a trama corre – literalmente – até o fim de forma lisérgica com revelações sendo atiradas na cara do espectador, sem que exista muito espaço para que possamos engolir muito bem tudo aquilo dito. É uma estratégia claro, usada em milhões de filmes. Você derrama um caldeirão de informações em um espaço curto, não dando tempo para o espectador pensar nos furos e absurdos do que está vendo, porque estamos tão curioso para saber até onde a trama caminhará que aceitamos aquilo passivamente.

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Se James McAvoy está correto, Vincent Cassel vê seu personagem ir perdendo força de forma agressiva e depois de um início forte, vai tornando-se um coadjuvante de luxo, enquanto Dawson da frieza inicial vai se tornando a peça fundamental da trama (pequeno spoiler aqui). Rosario é uma mulher belíssima e Boyle soube usar seus “atributos” para ilustrar sua pedante trama. Mesmo que seja ótimo ver a atriz completamente nua (pelo menos para os heterossexuais e as lésbicas) estas sequências são das mais gratuitas da história recente do cinema. E por que razão? Boyle precisa responder a uma pequena e insignificante referencia que faz no início do filme sobre um livro de arte. Muitos podem dizer que, na verdade, é uma exercício sobre o domínio que a personagem é submetida, mas por favor, ninguém me tira da cabeça que no fundo Boyle quis apenas mostrá-la pelada (nada contra, ela é linda) e que se as cenas não aparecessem na tela, de fato nada mudaria.

Em Transe flerta com o completo desastre com uma intimidade assustadora, mas Boyle sabe deixar o espectador, se não envolvido (já que os personagens são frios e a trama sórdida não ajuda), ao menos curiosos para saber onde aquele assalto mal sucedido vai nos levar. Uma pena que a resolução encontrada seja mais do mesmo, e caia no quase absurdo, transformando personagens em pessoas com habilidades super humanas.

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Dizem que é crítico de cinema, dizem que é um cara legal e dizem também que pode ser bem ranzinza. Outros, no entanto, dizem que "as vezes" ele acerta no que fala, enquanto outros - ele deve pagar essas pessoas - gostam do trabalho dele. Fã de Galactica, Doctor Who, Hayao Miyazaki, David Cronenberg, Dario Argento, Orson Welles, Grant Morrison, Neil Gaiman e comprador compulsivo de filmes.

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