Homem de Ferro 3
(Iron Man 3, 2013)
Aventura – 130 min.
Direção: Shane Black
Roteiro: Drew Pearce e Shane Black
com: Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Ben Kingsley, Guy Pearce, Don Cheadle, Jon Favreau
crítica: Alexandre Landucci
A maldição da expectativa. Se existem filmes que sofrem desse mal, alguns sequer sobrevivem sem o arfar no cangote de fãs alucinando a cada nova imagem, trailer e pôster divulgado. Fazendo aqui um mea culpa, muito dessa loucura causada por quem divulga (eu, por exemplo) cada nova ação de marketing dos filmes. Mas, espera-se que em pleno século XXI, os fãs (e os curiosos) percebam que tudo é uma estratégia para deixar o espectador salivando por aquilo, e que não é porque o pôster é incrível, as fotos te animam e o trailer te fez arrepiar que o filme vai ser bom. Ou melhor, mesmo com tanta propaganda não o julguem por isso, mas por seus próprios méritos.
Dito isso, vamos a Homem de Ferro 3, um desses exemplos mais claros de filmes fadados a serem consumidos meses antes de sua estreia. Sem Jon Favreau no comando, e com Shane Black (roteirista da serie Máquina Mortífera, O Último Grande Herói e diretor do bom Beijos e Tiros) assumindo a responsabilidade de lidar com o personagem mais rentável e popular da Marvel Studios. A pergunta que todos vocês fazem é: E aí, é bom?
Sim, Homem de Ferro 3 é divertido, mas paremos por aí. Não “explode cabeças”, tem problemas diversos na estrutura da narrativa, um excesso de humor que surge em momentos onde ela simplesmente não deveria existir, uma pretensa “seriedade” que soa galhofa demais e alguns elementos que farão os fãs de quadrinho xiita xingarem até a décima geração de Shane Black.
Vamos por partes: Shane Black pega Tony Stark após os eventos vistos em Vingadores e o transforma em um sujeito que não dorme, obcecado na construção de uma infinidade de armaduras e que sofre de uma espécie de ataque de pânico que é repetido a exaustão durante a produção. Stark também se vê mudado pelos eventos do filme citado e questionando sua força, sua real importância como herói e em ultima instancia seu passado, responsável direto pelos acontecimentos desse terceiro filme.
Sem me ater a spoilers, basta dizer que nessa terceira aventura, um Stark pré-filme original comete um erro e o resultado desse erro (de caráter) vem bater a sua porta. Soma-se a uma dificuldade de relacionamento de Tony e Pepper e o cenário está criado para os problemas enfrentados nesse filme.
Shane Black assina o filme de verdade. Diferente do que poderia parecer, Black não age aqui como diretor de aluguel, mas trás seu humor cortante para a produção de forma bastante aguda. Isso quer dizer que o Homem de Ferro usa e verdadeiramente abusa de piadas por todo o tempo. Em comparação direta com os outros filmes, é de longe o filme mais engraçado e que talvez funcione melhor para um público mais multifacetado sem tanto interesse em quadrinhos (e aqui especulo de forma arrogante, admito).
O primeiro Homem de Ferro (de longe o melhor filme da Marvel Studios até aqui, seguido de perto por Vingadores) tem um saudável equilíbrio entre o bom humor – especialmente na figura e na personalidade de Tony Stark, e ótimas sequências de ação, que dão credibilidade aos desafios do personagem em ver-se livre do mal que suas empresas produziam e enfrentam a traição no seio de sua companhia.
Já no segundo, esse elemento de bom humor ainda existe, mas foi suplantado por uma preocupação maior na criação de um vilão – Ivan Vanko/Mickey Rourke – que não é carismático e rumina suas frases sem causar qualquer tipo de impacto. Se tínhamos Sam Rockwell como o outro vilão (mais interessante e carismático) ele acabou sendo deixado de lado, e acrescido ao surgimento do Máquina de Combate e da Viúva Negra, o filme padeceu dos problemas que sempre acabam acometendo filmes com excesso de gente em tela: mau desenvolvimento dos mesmos. Que pese que o filme mantém a qualidade de ação, é um passo atrás em relação aos muitos acertos (de tom principalmente) do filme original.
Já a terceira aventura, como disse é a mais engraçada das três. Tirando inclusive o impacto de diversas cenas de ação com essa mania de a cada segundo precisar justificar a personalidade de Tony Stark. Sabemos que ele é um gozador, sabemos que ele é um sujeito sarcástico e que não se leva a sério (esse é seu charme e grande diferencial em relação a todos os heróis de quadrinhos que o cinema mostrou até aqui), mas precisamos ser lembrados disso a cada cinco minutos? É plausível que em meio a uma batalha, o sujeito simplesmente faça uma piada segundos depois de imaginar que alguém que ele verdadeiramente se importa acaba de morrer? É plausível que cada capanga dos vilões da vez sejam excelente humoristas? É plausível que mesmo nas situações em que o filme tenta criar uma crise (seja de consciência ou simplesmente um evento que precisa ser evitado), sempre exista uma tirada engraçadinha?
Voltemos aos filmes anteriores. Quando Tony era espancado por Obadiah no final do primeiro filme ele fazia piadinhas? Quando foi espancado em Monte Carlo por Vanko, ele saiu-se com uma anedota? Não. Então Black exagera aqui, fazendo do Tony Stark uma versão de armadura de uma comediante. Os traços da personalidade de Stark não justificam esse excesso, principalmente quando essas ideias prejudicam o andamento e tiram o impacto das sequências de ação.
E os problemas de estrutura? Não existe um real impacto na trama. Seguindo o mal da maioria dos quadrinhos de heróis, nada de fato muda. Black brinca de cubo mágico aqui. Pega a estrutura pronta de Favreau/Whedon (diretor de Vingadores), muda as peças de lugar e inverte as cores para no fim, de fato, mudar quase nada. Sim, existe aqui um sentimento de final de trilogia, e me pergunto por quê? Seria Downey Jr. dando adeus ao personagem? Emulando os quadrinhos, esse seria o fim de um arco? Se formos pensar assim, porque ignorarmos elementos plantados ali no primeiro filme? A tal irmandade dos 10 anéis, que era tão poderosa no primeiro Homem de Ferro, ressurge aqui nas mãos do vilão Mandarim, mas de uma forma completamente distorcida, por exemplo.
As cenas finais do filme (não se preocupem, não vou contar) explicitam essa intenção quase Batman de Christopher Nolan de passar o bastão, para nos momentos finais mudar de ideia. Então para que seguir por esse caminho? Como disse, Black pega seu cubo mágico, gira, mexe e remexe e no fim deixa-o como encontramos antes. Todo o mal perpetrado enfim, não serve de muita coisa. Nem mesmo as ideias que ele mesmo planta (o tal surto de ansiedade) tem um final digno.
E chegamos àquilo que deve (de novo, me dou o direito de especular aqui) irritar os fãs mais xiitas do Homem de Ferro. Na mitologia do herói, o Mandarim é seu nêmesis. Seu Coringa, seu Lex Luthor, seu Doutor Octopus (ou Duende Verde), seu Loki, enfim… aquele sujeito que realmente dá trabalho ao herói.
Falando do ponto de vista quadrinhístico, e aqui confesso não ser um leitor do personagem, mas conheço um pouco sua mitologia, Black faz algo parecido com o que Joel Schumacher fez com Duas Caras em Batman Eternamente (pra ficar num exemplo). Deu medo né? Mas calma, apesar do Mandarim que vemos em tela não ser exatamente aquele que o público imagina, ele funciona muito bem. Isso me leva ao questionamento que fiz no inicio desse texto sobre expectativa. Durante todos os trailers e pôsteres, a figura do Mandarim de Ben Kingsley serviu como símbolo do poder e do mal. O departamento de marketing da Marvel agiu de forma brilhante aqui, e assim como acontece na trama do filme, despistou completamente os fãs (e leigos) sobre o que de fato é sua trama e de que forma o Mandarim funciona na produção e isso leva a reflexão do ponto de vista cinematográfico. Nesse sentido, o Mandarim é maravilhoso, talvez a grande sacada do estúdio Marvel até aqui. Uma ideia tirada da cartola que o aproxima do mundo real e cria uma discussão curiosa e bastante válida em uma produção com interesses meramente escapistas (não é um demérito tá gente, é só uma constatação, afinal ninguém vai ver um filme do Homem de Ferro esperando uma discussão sobre o universo, não é?). Estou verdadeiramente curioso para ver (e ler) as reações do público em relação a esse personagem. De minha parte, fica o aplauso a ousadia da equipe do filme.
Downey Jr. conhece o personagem como ninguém (usando um lugar comum). Por isso, dizer que ele novamente acerta em cheio como aquele playboy redimido cheio de marra é chover no molhado. Ben Kingsley como o citado Mandarim está no mesmo nível de Downey Jr., divertindo-se com os elementos visuais e com o uso da linguagem por seu personagem. Guy Pearce faz de Aldrich Killian, um Tony Stark sem charme, o que para a historia contada é funcional, enquanto Don Cheadle volta à carga como um Rhodes menos sisudo. Enquanto Gwyneth Paltrow tem mais destaque emocional, sendo a real motivação para quase tudo que Stark faz na trama.
Em termos de ação, a coisa funciona novamente muito bem. Que pese a quantidade inacreditável de armaduras (que a gente sabe servem para vender toneladas de brinquedos) e que de fato só acabam sendo usadas de forma efetiva em uma cena, a antecipada cena de destruição da mansão de Stark é muito boa, assim como (minha favorita) a que envolve um salvamento de uma serie de pessoas em pleno ar. Como em todo filme de quadrinho que se preze, uma gigantesca sequência final aqui também se faz presente e ela é divertida, explosiva e repleta de gadgets (no caso armaduras). Tudo bem construído, fugindo do “piscou-perdeu” embora envolva uma quantidade obscena de personagens e uma montagem frenética. O mesmo vale para a citada sequência do avião, onde o sentido de urgência é evidenciado pela dificuldade em executar o salvamento.
Homem de Ferro 3 é uma aventura divertida e só. Talvez seja na medida do que de fato esse tipo de produção deva ser, mas diante de um primeiro filme impactante e vindo do mega sucesso de Vingadores, era de se esperar que Tony Stark tivesse seu primeiro arco no cinema (se é que se pode dizer assim) melhor arrematado. Diverte, entretém, faz rir, mas está longe do que o personagem e a Marvel mostraram poder fazer com o herói.
Que cagada em Marvel. Agora mesmo que eu não irei ao cinema assistir o filme. Deixarei que saia do cinema.
Karin
também vou esperar pelo DVD do homem de ferro 3, de longe é o filme mais fraco, mas não é ruim o filme é bom.
eu li boa parte dos arcos do homem de ferro nos quadrinhos e o arco usado no filme o extremis, eles usaram elementos bons do extremis mas deixaram algumas coisas vitais de fora.
mas faz parte do jogo espero que eles corrijam isso daqui em diante.
O primeiro filme com certeza é o melhor dos 3 do Homem de Ferro, mas este terceiro não faz feio.
Achei que teve muito menos cenas de ação com o Homem de Ferro e um desenvolvimento maior da figura Tony Stark, ele é um falastrão de marca maior, mas todos os temores e crises dele, mesmo que tenham sumido no final pela situação toda, estão sendo apenas colocados de alicerce para o vindouro Vingadores 2.
Tony Stark vai estar na sua fase mais conhecida dos quadrinhos na próxima reunião de heróis, já que não deve ter outro Homem de Ferro antes de Vingadores 2, e o que todos os filmes até agora mostraram, pela Marvel Studios, heróis certinhos e sem grandes traumas, vai mudar.
Robert Downey Jr deve continuar no papel, mas os outros filmes relacionados à Vingadores 2 devem se destacar mais, Thor é crítico que tenha um bom segundo filme, o primeiro foi muita promessa e pouca conclusão, e Capitão América teve um bom primeiro filme, mas foi um filme histórico, encaixar um herói patriota nos dias atuais vai ser o desafio.
Não é um filme como Vingadores, que vi muitas vezes, mas é um filme para se ver mais que uma vez na tela grande.