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A Caça [Crítica]

Patrine 12 anos ago 0 43

Jagten (The Hunt) posterA Caça
(Jagten, 2012)
Drama – 115 min.

Direção: Thomas Vinterberg
Roteiro: Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg

com: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp

crítica: Alexandre Landucci

Crianças nunca mentem? Esse é o mote da produção de Thomas Vinterberg sobre um pacato e simpático professor que tem sua vida destruída a partir de uma mentira contada por uma criança frustrada. A posição do diretor é ousada já que a afirmação mentirosa envolve um dos assuntos mais dolorosos e asquerosos do mundo: o abuso infantil.

Ao apostar nisso, Vinterberg consegue com que o público entenda até mesmo as motivações para com que os envolvidos nessa historia acabem agindo de forma condenatória em relação ao protagonista. Essa é a atitude normal diante de acusações tão virulentas. Automaticamente nos solidarizamos com as vitimas e atacamos os acusados mesmo sem termos provas a respeito. A óbvia lembrança ao ocorrido com a Escola de Base em São Paulo (quem lembra?) onde os responsáveis pela escola foram acusados de toda uma serie de abusos e depois se comprovou que nada daquilo era verdade. Porém, a vida dos donos já tinha sido destruída e os traumas sofridos por essas pessoas são certamente sentidos até hoje.

Esse é o caso de Lucas, que tem sua vida devassada e que realmente emociona o espectador com seu drama. A interpretação de Mads Mikkelsen é poderosa, intensa e emocionante conseguindo transitar pela sensibilidade de seu personagem e a tristeza profunda com as acusações infundadas que recebe. Acusações que ele (e o diretor inteligentemente ilustra em diversos momentos) sabe que dificilmente serão realmente perdoadas. Sua descrença em ver que sua vida está sendo destruída é comovente e conseguimos facilmente nos colocar na angustia que é ser injustamente acusado de algo que não se fez.

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Vinterberg é ácido na posição com que coloca os adultos envolvidos naquela trama, já que mesmo com a simpaticíssima e carismática Klara dizendo que mentiu e que aquilo não é verdade, ninguém passa a acreditar nela também, tornando o fato uma espiral sem fim de tragédias.
A montagem é espetacular, fazendo de A Caça uma jornada rumo à tragédia onde os vencedores e perdedores não existem. Se Lucas perde sua vida, a população da pequena cidade jamais conseguirá enxergar o professor da mesma forma que o via antes das acusações ou talvez deixar de sentir-se envergonhado pelas acusações infringidas.O filme tem momentos de grande sensibilidade como a que envolve a missa de Natal, quando o professor enxerga toda a população da cidadezinha dentro da igreja e sente-se absolutamente deslocado, como se de fato fosse um criminoso condenado. A alegada falta de ambição do personagem, em manter-se como um simples professor de jardim de infância amplia nossa simpatia para com ele, já que Vinterberg nos convence de forma inequívoca de que ele é uma pessoa de caráter que não está sequer pensando em bens materiais e que ama seu trabalho. Por isso, assim que a acusação surge, jamais sequer pensamos que exista ali alguma possibilidade para uma “revelação de último minuto”, provando que ele de fato abusou da garotinha.

The Hunt (Jagten) film still

Somos “time Lucas” desde a saída e ver a espiral da decadência que Vinterberg produz – de forma quase masoquista – sobre a vida de seu protagonista é assustadora e muito tocante. Vinterberg explora nossa simpatia pelo personagem e nossa profunda indignação ao perceber que ninguém levantará um dedo em sua defesa.
A Caça é monumental. Um espetáculo de interpretação de Mads Mikkelsen, uma direção sóbria, inteligente, segura e que jamais apela para a solução óbvia ou instiga dúvida no espectador. Os planos finais, desnecessários ao ilustrar de forma até gratuita a tal “caça” não chegam a destruir o filme, mas enfraquecem a análise mais cerebral que Vinterberg vinha fazendo até ali. Uma pequena concessão gráfica a ideia de que ele jamais será perdoado e para todo o sempre viverá sob ameaça daqueles que não conseguem acreditar em sua verdade.
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Patrine atende, às vezes, pelo nome de Ana Carolina Dias é produtora de conteúdo do site e editora do Senpuucast. Também é jornalista, fez estágio como assistente de produção em rádio e atualmente trabalha como editora de web.

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