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Entrevista com o roteirista de King Kong VS Godzilla

Patrine 12 anos ago 1 117


Os fãs de ficção científica, Godzilla e King Kong que acompanham o Senpuu já sabem que o filme King Kong VS Godzilla comemora 50 anos neste ano.

Lançado no Japão em 1962, como parte da festa de aniversário de 30 anos da Toho, King Kong VS Godzilla (Kingu Kongu tai Gojira) foi um grande sucesso, vendendo mais de 11 milhões de ingressos na sua exibição inicial.

A história do filme envolve produtores norte americanos e japoneses. Na década de 60, o produtor John Beck entrou em contato com a Toho com uma permissão da RKO Pictures para filmar uma produção que envolvesse a luta de King Kong com um outro monstro gigante.

A Toho então enxergou uma grande possibilidade de trazer de volta à mídia o seu próprio monstro gigante, Godzilla, e fez um acordo com Beck, no qual a produtora seria responsável pelo filme em troca de todos os direitos na Ásia, enquanto o norte americano ganharia os direitos da produção cinematográfica para os territórios de língua inglesa.

Os direitos da King Kong VS Godzilla foram vendidos para a Universal Pictures em abril de 1963 por John Beck que foi autorizado a criar uma versão inglesa antes que o estúdio obtivesse os direitos do filme. Beck então fez parceria com dois jovens roteiristas chamados Paul Mason e Bruce Howard, com o intuito de “americazinar” King Kong VS Godzilla.

A dupla escreveu um roteiro em inglês supervisionou a edição do filme e desenvolveram novas cenas filmadas nos Estados Unidos para serem rodadas pelo diretor Thomas Montgomery, e ainda emprestaram suas vozes para a dublagem, tudo isso por muito pouco dinheiro. Mason e Howard tiveram que dividir os $3.500,00 que receberam de Beck em troca de muitas semanas de trabalho.

O filme foi lançado pela Universal em Nova York em junho de 1963. O filme provou rapidamente que era um sucesso na semana de estreia nos cinemas dos Estados Unidos e depois em todo o mundo. Atualmente, ele é considerado um favorito dos cults e se mantém como um dos filmes de monstros mais famosos já feitos.

Com a celebração de 50 anos do lançamento do filme original, organizada pela Bay Area Film Events, o roteirista Paul Mason conversou sobre a produção com Allen Perkins. Acompanhe, abaixo a tradução da entrevista que foi publicada no site Sci-Fi Japan:

Allen Perkins: Você poderia, por favor, nos falar um pouco sobre a sua vida, quando e onde você nasceu? Como seus pais eram?

Paul Mason: Eu nasci em Chicago, Illinois. Meus pais era imigrantes russos e eu frequentei a Northwestern University, e então eu vim para Hollywood em busca de fama e fortuna.

Allen Perkins: O que instigou o seu interesse pelo show business?

Paul Mason: Eu sempre adorei escrever e assistir performances, musicais, cinema…

Allen Perkins: Você teve alguma experiência com filmes ou TV antes de trabalhar em King Kong VS Godzilla?

Paul Mason: Sim. Inicialmente eu escrevi algumas histórias em quadrinhos — “Beetle Bailey” e “Snuffy Smith” para a produtora Al Brodax na ABC — e comédias rotineiras com um grande amigo meu, Bruce Howard, que escreveu King Kong VS Godzilla comigo e que morreu recentemente (em janeiro de 2012). Então eu tinha escrito algumas coisas para comédias que estavam na TV e então eu tinha escrito o roteiro de “Angel Baby” para um amigo. Eu tive que reescrever isso e não tenho o rascunho original, mas eu ainda era um escritor muito jovem nessa época.

Allen Perkins: Trabalhar como escritor para uma versão inglesa de um monstro gigante japonês é certamente um crédito curioso. Como você entrou no processo de “americanização” de King Kong VS Godzilla?

Paul Mason: Um amigo meu que era agente e depois se tornou produtor, John Beck, tinha amigos nos dois lugares (na Toho e na Universal). Ele sugeriu que a Universal mantivesse uma versão americana do filme e a Toho, teria os direitos da produção no mercado asiático. Entao eles dividiram os territórios. John me pediu que fizesse um roteiro original na época e eu pedi ao meu parceiro Bruce Howard para fazer isso comigo. Com a intenção de dar um sentimento americano nós criamos um conceito de dois apresentadores de jornais e eles contariam a história. Então nós elaboramos novos personagens brancos e fizemos três dias de filmagens que nós inserimos no filme. Nós refizemos isso e escrevemos o nosso próprio roteiro e colocamos o que queríamos nas bocas dos personagens e então dublamos por cima. Na verdade, eu acho que a minha voz está lá em vários momentos, assim como a do Bruce. Nós contratamos atores, reescrevemos, reorganizamos e lançamos. Eu conheci Sid Sheinberg quando ele foi presidente da Universal e ele me disse que ainda é um dos maiores sucesso que eles lançaram.


Allen Perkins: Antes de trabalhar nesse filme, você já tinha visto ou ouvido falar de um dos personagens que dão nome à produção?

Paul Mason: Sim, eu tinha visto King Kong. Eu achei ótimo! E eu tinha ouvido falar do Godzilla, apesar de não ter visto nenhum dos filmes.

Allen Perkins: Você e Bruce receberam alguma imagem da versão original do filme para ter alguma ideia de como escrever a versão de vocês? Se não, que tipo de preparação vocês fizeram antes de escrever?

Paul Mason: Ah, sim, nós vimos o original e discutimos com John Beck, o produtor, como a gente queria lidar com isso e o que nós iriámos fazer. Primeiro nós fizemos um rascunho, então a gente trabalhou com o editor para retirar algumas sequências e refazer outras, e por fim nós fizemos o roteiro e partimos para as filmagens.

Allen Perkins: A ideia de incluir as cenas de jornais de alguma maneira foi inspirada pelo papel de Raymond Burr como repórter na versão original norte americana de Godzilla?

Paul Mason: Bom, claro que a gente viu esse filme e pensamos que era uma boa ideia a forma como Raymond atuou… Na verdade, quando eu estava produzindo (a série de TV de Burr) Ironside nós falamos sobre isso e demos algumas risadas. Mas nós sabíamos que teríamos que fazer uma versão americana, então surgiu a ideia de dois comentaristas que nós usaríamos nas filmagens de ação como forma de narrativa. E parece que funcionou muito bem.


Allen Perkins: Você e o resto da equipe consideraram em algum momento simplesmente dublar o filme e lançar da forma mesmo como ele era ou, ao contrário, vocês consideraram tirar todas as partes de atuação dos japoneses e criar um novo produto virtualmente?

Paul Mason: Primeiramente nós sabíamos que tínhamos que fazer o filme mais “americanizado” então nós fomos dirigidos por isso. Num segundo momento, recebemos uma quantidade limitada de dinheiro e, como eu disse, nós só fizemos três dias de filmagem e dublamos em uma semana. Tudo foi baseado no máximo de tempo e dinheiro que nós tínhamos.

Allen Perkins: Tinham algumas ideias de você, Bruce ou alguém mais que foram consideradas mas não colocadas na versão norte americana?

Paul Mason: Normalmente, quando você começa algo desse tipo, você começa a descartar várias ideias. Eu não me lembro do que jogamos fora, mas eu sei que fizemos isso e quando chegamos a um ou dois consensos, nós nos sentimos muito bem. E nós sabíamos que tínhamos que confinar nossas filmagens, não podíamos fazer externas nem nada grande, então tudo que acrescentamos foi pequeno. Além disso, nós respeitamos muito o que os japoneses fizeram, especialmente em termos de filmagens de cenas de ação, principalmente do Godzilla. Era um material muito bom, então nós quisemos manter tudo e a maioria das coisas que nos levavam em frente nos ajudaram com a história.

Allen Perkins: O que você pensa sobre o Kong japonês em relação ao original? Você pensa que foi uma adaptação válida?

Paul Mason: Ah, foi ótimo. Eles tiveram um grande respeito pelo Kong e a luta entre os dois foi épica! Foi realmente muito bom. O que me fez rir, no entanto, é que eles quiseram refazer a cena (do King Kong) na qual o Kong sobre no maior prédio da cidade, mas, nessa época no Japão, o prédio mais alto era o Diet Building, que tinha três andares, então ele simplesmente sentou em cima do lugar. E eu vi o filme tantas vezes quando trabalhei com ele que quando cheguei ao Japão, uns dez anos depois, eu consegui reconhecer marcos, incluindo o Diet Building, o que foi meio engraçado.


Allen Perkins: A versão original King Kong VS Godzilla era uma comédia, com sátira ao capitalismo. A versão dos Estados Unidos, no entanto, parece ser uma simples produção de ficção científica, no estilo de filmes de monstros norte americanos dos anos 50, com uma pitada de humor aqui e ali. De quem foi a decisão de fazer o filme “menos engraçado”?

Paul Mason: Eu não sei, eu não diria que os japoneses tiveram a intenção de fazer uma sátira. Eu acredito que eles levam o Godzilla muito, muito, a sério. E eu sei quando eu fui no Japão e conversei com algumas pessoas que o Godzilla é um dos tesouros deles. Então, eu não estou muito certo de que eles fizeram tudo em forma de sátira. Eu acho que fizemos até mais engraçado. Nós tínhamos falas como “ele é uma galinha!” quando o Godzilla queima o King Kong. Eu não acho que foi uma questão de tentar fazer menos engraçado. Foi um tipo maravilhoso de história sci-fi semi-comédia  desses dois monstros históricos.

Allen Perkins: Qual foi o seu grau de participação na redação desse filme? Em outras palavras, você escreveu as novas cenas enquanto Howard escreveu a dublagem ou vice-versa ou você contribuiu somente com os novos materiais de filmagem?

Paul Mason: Não, nós escrevemos tudo. Nós escrevemos novas cenas, então escrevemos os diálogos que estariam no filme (que às vezes eram uma tradução do que os japoneses fizeram), mas, algumas vezes, eram apenas coisas que nós inventávamos na nossa própria história. Nós tentamos deixar tudo o mais linear possível.

Allen Perkins: Qual você considera que foi o maior desafio de trabalhar nesse filme?

Paul Mason: Primeiro, é claro, criar uma “americanização” dele para que pudesse ser vendido no mercado norte americano, o que era muito importante para John e para o estúdio. Depois, conseguir terminar tudo com o limite de tempo apertado. E então, claro, conseguir vozes e as pessoas depois que tínhamos escrito o roteiro, colocando tudo junto. Quando eu penso nisso, foi realmente uma grande tarefa que nós fizemos com muito pouco dinheiro.

Allen Perkins: King Kong VS Godzilla de alguma forma te ajudou na sua carreira de sucesso no show business?


Paul Mason: Eu acho que todos os trabalhos que você faz e que as pessoas ficam sabendo te ajudam na sua carreira, então você sempre tem que produzir.

Allen Perkins: Você tem uma longa carreira de sucesso no cinema e na TV. Quais são alguns dos seus projetos favoritos nos quais você trabalhou desde então? Com quais celebridades você já trabalhou nesse caminho?

Paul Mason: Eu fui muito sortudo ao trabalhar com Bob Wagner, Raymond Burr, Rock Hudson… Pessoas maravilhosas e muito talentosas. Mais tarde eu fiz filmes que tomaram muito mais tempo. Os atores eram um pouco diferentes, mas no fundo eram os mesmos. Nós finalizamos um com o Richard Gere sobre um cachorro chamado Hachiko, e agora eu acabei de voltar da India, onde nós terminamos um filme com Ben Kingsley chamado “Commom Man”, que eu penso que será muito bom. Richard Gere em “Hachiko” era bom mas, mais uma vez, o diretor, Lasse Hallstrom, também era. Já passaram muitas pessoas maravilhosas e talentosas pela minha vida e eu sou muito contente por isso. Cada projeto, série de TV series, todos são divertidos.

Allen Perkins: Você gosta de King Kong VS Godzilla? Você considera o filme apenas mais um crédito na sua longa filmografia ou ele significa algo mais para você? Como você se sentiu trabalhando nesse projeto?

Paul Mason: Eu me lembro de King Kong VS Godzilla com muito carinho porque Bruce e eu fizemos realmente de tudo para que o filme acontecesse e foi divertido, nós nos divertimos muito com ele. Naquel tempo era apenas mais um projeto, mais tarde se tornou um clássico cult, mas no passado era mais um filme de monstro, mesmo que King Kong e Godzilla fossem personagens muito conhecidos. Ninguém sabia que se tornaria um clássico tão famosos, incluindo eu.

Allen Perkins: Você viu o filme durante a exibição original nos Estados Unidos? Como foi a reação do grande público na época e como ele foi recebido dentro da indústria cinematográfica? Você se lembra como outros reagiram ao filme na época?

Paul Mason: Eu vi algumas vezes e sempre foi recebido muito bem. Na verdade, melhor do que os anteriores. As pessoas simplesmente amavam esses personagens!

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Patrine atende, às vezes, pelo nome de Ana Carolina Dias é produtora de conteúdo do site e editora do Senpuucast. Também é jornalista, fez estágio como assistente de produção em rádio e atualmente trabalha como editora de web.

1 Comment

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  1. Leo disse:

    Esse King Kong japonês tem quase o mesmo tamanho do Godzilla

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