(X-Men: First Class, 2011)
Aventura/Drama – 132 min.
Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman, Matthew Vaughn, Sheldon Turner e Bryan Singer
Com: Michael Fassbender, James McAvoy, Kevin Bacon, January Jones, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Rose Byrne, Caleb Landry Jones, Lucas Till e Zoe Kravitz
Crítica: Alexandre Landucci
Começar uma crítica a respeito de qualquer filme da franquia X-Men relembrando que, no fundo tudo o que envolve os mutantes da Marvel é uma analogia a “guerra” contra o preconceito, e que poderíamos substituir todo e qualquer mutante por negros, homossexuais, judeus, mulheres, islâmicos e até gordos parece clichê – e no fundo é – mas nunca fez tanto sentido quanto ao analisarmos esse novo – e melhor – filme que trás para a tela grande os personagens originalmente criados por Stan Lee.
Passados nos turbulentos e culturalmente inesquecíveis anos 60, a produção é inteligentíssima ao se aproveitar disso e criar um misto de filme de espionagem (com muitas idas e vindas de cenários, gadgets espertos e a tensão da guerra fria) com filme engajado (pois discute abertamente a questão mutante: “Mutant and proud” é o “Black is Beautiful” nesse contexto) e ainda apresenta as mais incríveis cenas de ação do ano, sem sombra de dúvida.
Do outro lado do espectro, temos Charles Xavier, aqui visto como um Bon vivant mulherengo e que tem consciência de seus poderes e adora utilizá-los. Nada relacionado aquela visão serena e professoral dos antigos filmes. Xavier aqui ainda não pensa em escolas/grupos e luta pelos direitos dos mutantes. Ainda está na “fase” de entendê-los, conhecer seus “irmãos” e curtir a vida. Nessa equação entra o personagem Sebastian Shaw, envolvido no passado de Magneto e que movimenta a trama forçando Xavier e Magneto a se unirem, aproximando-os e criando laços de amizade.
Esses ótimos personagens que formam a “X-Team” apesar de não serem o ápice da tridimensionalidade e terem pouco tempo de tela, cumprem suas funções básicas em um longa de aventura/ação com louvor. Cada um deles apresenta personalidades diferentes, características únicas que fazem o espectador conhecê-los razoavelmente bem a ponto de até escolher seu herói favorito. O mais interessante deles ficou a cargo da atriz mais interessante do grupo. A belíssima e talentosa Jennifer Lawrence interpreta Mística – um dos poucos personagens a aparecer nas duas épocas mostradas pelos filmes dos mutantes da Marvel. Aqui, Raven é uma garota recém- saída da adolescência ainda complexada por sua aparência e com dificuldades para se aceitar. É por ela que o espectador – talvez – consiga se sentir mais próximo já que sua personagem é muito próxima de nós, que já fomos (ou ainda somos) adolescentes com dúvidas e com medo da reação da sociedade as nossas escolhas. Hank McCoy/Fera, interpretado por Nicholas Hoult (de Um Grande Garoto e também presente no remake de Fúria de Titãs e em Direito de Amar) versa como Mística. O personagem em X-Men 3, (interpretado por Kelsey Gramer) já surge completamente transformado na “besta” azul que guarda semelhanças com os primatas. Em Primeira Classe, Hank é um garoto gênio responsável pela criação de boa parte de toda a tecnologia que vai ajudar os X-Men em suas aventuras e – como Mística – tem dificuldades para aceitar sua mutação, que é mostrada como nos quadrinhos originais. Banshee/Sean Cassidy (Caleb Landry Jones), o mutante capaz de fazer de seu grito uma arma sônica – aqui visto como um garotão desleixado funcionando como alívio cômico do filme. Alex Summers/Destrutor (Lucas Til), nos quadrinhos irmão do personagem Ciclope, tem o poder de controlar as ondas térmicas. No filme surge como o bad boy da equipe sempre em choque – leve – com o personagem de McCoy.
A única falha mais perceptível no elenco de X-Men são os dois personagens menos conhecidos – até mesmo dos fãs “die hard” de quadrinhos – que fazem parte dessa primeira equipe. Obviamente Ciclope, Jean Grey, Anjo e Homem de Gelo (membros da equipe original dos quadrinhos) não poderiam surgir nos anos 60 com cerca de dezoito anos e no final dos anos 90 com cerca de vinte e poucos (Homem de Gelo menos ainda, já que nos filmes é um adolescente). Esses personagens são Darwin (Edi Gathegi) um mutante que tem o poder de adaptar seu corpo ao ambiente em que está presente e Angel Salvatore (Zoe Kravitz) uma mutante com asas de libélula nas costas (criadas e camufladas de maneira muito criativa) que ainda cospe fogo pela boca.
Ambos são personagens fracos, interpretados com preguiça e muito mal aproveitados. Darwin inclusive protagoniza a cena mais clichê do filme. Durante o discurso de um determinado personagem, que fala sobre liberdade e lutar por seus direitos, no exato momento em que a palavra escravidão é usada, a figura de Edi Gathegi (um ator negro que o público talvez lembre do primeiro Crepúsculo) “inunda” a tela. Um efeito óbvio e que se torna um ruído exagerado diante do acerto que é todo o filme.
Se um filme tem bons heróis geralmente isso é potencializado pela escola de grandes algozes. Kevin Bacon, de volta aos bons papéis depois de O Lenhador faz de Sebastian Shaw um vilão no melhor estilo 007 da Guerra Fria. Cruel, dono de gadgets incríveis, sempre cínico e nunca perdendo a classe e compostura, é tão interessante nesse filme como Magneto foi nos filmes anteriores, fazendo de Shaw um canalha com bom humor e um “ideal”. Emma Frost – a sexy January Jones – é tão interessante quanto seu parceiro. Não sou um conhecedor dos quadrinhos dos X-Men, mas Frost sempre foi um personagem ambíguo mudando de lado ao sabor do vento e Jones representa Frost como uma entediada e extremamente poderosa Bond Girl, que faz da personagem de Kelly Hu em X-Men 2 (Lady Letal), que cumpria a mesma função nesse segundo filme (a de sidekick do vilão), um adereço de cena. Cheia de personalidade, bom humor e tendo em mãos poderes muito mais legais, Emma Frost é um personagem que queremos ver em futuros filmes mutantes (e não é só porque a personagem passa o tempo todo mostrando sua ótima forma em tela).
Um dos elementos fundamentais para que Frost funcione são os efeitos visuais e maquiagem. A transformação de McCoy em Fera faz do ator literalmente um bicho enfurecido, funcionando muito melhor do que a que transformava Kelsey Gramer em um gigantesco smurf com pêlos. A maquiagem também faz de Jason Flemyng – Azazel – um personagem interessante, pelo menos visualmente, remetendo obviamente ao Noturno – que esteve no segundo filme dos mutantes. E a maquiagem de Mística nunca esteve tão boa, auxiliando perfeitamente o trabalho de Lawrence na construção de um personagem diferente de tudo o que nossos olhos tinham visto até então.
Os efeitos visuais precisariam criar explosões e todas as demonstrações de poder dos mutantes e o fazem com enorme competência. Desde o contorcer do metal – visto em copos, moedas, pratos, submarinos entre outros – passando pelo grito sônico de Banshee, as asas de Angel que se movimentam como um inseto real, a força destrutiva – perdão do trocadilho – do Destrutor, a força de absorção de Shaw, a cenas de transformação da Mística culminando no incrível visual “diamante” de Frost, que consegue apresentar o poder da personagem e ainda deixá-la expressiva o suficiente para demonstrar emoções, mesma naquela forma.
Mas mesmo com todas essas características, X-Men poderia fracassar – e ser apenas uma aventura bobinha, inofensiva e “bem feitinha” – caso os protagonistas – o melhor, seu protagonista e seu coadjuvante mais próximo falhassem em construir personagens interessantes.
James McAvoy (de último Rei da Escócia e Procurado entre outros) apresenta um perfil diferente do que nossa experiência pregressa imaginava para o professor Charles Xavier. Embalado pelos swinging sixties, Xavier é um camarada divertido e que se vê envolvido em um luta que não pediu pra entrar graças ao contato da agente Moira McTaggert (Rose Byrne), em busca de respostas sobre os mutantes. Sua atuação passiva, cautelosa mas imatura faz de Xavier um personagem mais caloroso do que aquele interpretado por Patrick Stewart.
Mas é Michael Fassbender (Bastardos Inglórios, Hunger entre outros) que rouba todas as cenas. Michael tem uma atuação icônica que fará do espectador esquecer Ian McKellen e seu vilanesco e levemente afetado personagem. Fassbender é pura energia, tendo uma presença “magnética” – outro trocadilho infame, eu sei – fazendo de cada cena um palco para sua tour de force. Parece exagero decretar que uma atuação em um filme de quadrinhos (ainda vistos como arte menor) possa ser considerada inesquecível, mas se formos entrar nesse mérito, o que seria do Robin Hood de Errol Flynn, por exemplo? Ou vai me dizer que Robin Hood não tem “cara” de personagem de quadrinhos? Ou Indiana Jones? Ou Luke Skywalker? Personagens do gênero que entraram no imaginário coletivo. Fassbender fez a sua parte e consegue emocionar o público com a mesma intensidade que consegue nos deixar pregados na cadeira a espera de suas novas ações. Fassbender é o James Bond dos anos 60 caso os filmes fossem feitos hoje, e – espero – que numa futura continuação tenhamos ainda mais tempo para vê-lo em ação. Estamos vendo a construção de mais um ícone do cinema e de um personagem verdadeiramente inesquecível.
O design de produção é impressionante e são nos detalhes – como a criação do Cérebro com tecnologia da época ou o visual inteiro do submarino de Shaw todo em branco – que entramos de cabeça nessa realidade dos anos sessenta, que o filme tão bem defende. Outro destaque é a cena inicial do filme que foi recriada fielmente (não consigo ver como poderiam ser mais fiéis) a partir da cena original vista no primeiro X-Men. Apesar de sentir falta de um tema de maior impacto, a trilha de Henry Jackman é consistente mas deixa a desejar nos momentos mais introspectivos, funcionando melhor nas várias seqüências de ação.
Outro exemplo envolve Magneto em busca de vingança por seu passado. Montado como um grande thriller de época, nos dá tempo de observar os detalhes e construir a tensão, enquanto Vaughn e a montagem transitam entre os planos detalhes, planos mais abertos e closes dos personagens. Além disso, é notório o cuidado em não deixar as cenas de ação confusas mostrando tudo e cortando apenas quando o espectador já conseguiu captar a mensagem que precisava.
X-Men: Primeira Classe não é só o melhor filme já criado a partir dos mutantes da Marvel, mas um dos melhores filmes de aventura do novo século e um dos melhores filmes baseados em quadrinhos já realizados.
Desde já fico no aguardo de X-Men: Os Reprovados.
Nota: 9,5
Eu vi esse filme ontem e sem duvida nenhuma é o melhor filme dos mutantes.Se pegarmos todos os filmes anteriores somarmos e elevarmos ao quadrado não chega nem na metade que esse filme é.
Adorei o fime, mas a roupa do Magneto no final do filme… Jesus!!! Parecia que ele tinha acabado de sair da parada GAY.
ELE SO PERDE PRO X-MEN 2 MAS O FILME É MUITO FODA