Texto: Alexandre Landucci
Engraçado fazer parte da equipe de um site focado em tokusatsus e nunca ter escrito nada sobre uma série.
Pensando nisso é que pensei em no lugar de uma tradicional crítica falar – com os olhos de alguém que não consome tokusatsus – sobre o que o pessoal do Senpuu mais entende.
Sei que a tarefa é difícil, e provavelmente alguns possam interpretar mal a idéia, mas penso que é interessante para mim, escrever sobre algo que me é praticamente desconhecido, ou que tenho conhecimento limitado.
Por isso, de antemão peço desculpas caso cometa algum erro quanto a datas/nomes, e caso encontrem algum(ns) não se furtem a apontá-los.
Ok?
Quem ouve os senpuucasts com freqüência talvez se lembre que em um deles comentei sobre Changeman, sobre as qualidades que via na série e como talvez ela ainda funcionasse nos dias de hoje – obviamente com maiores recursos.
A série de 1985 chegou ao país pela primeira vez em 1988, e lembro de ter começado a ver quando tinha meus três ou quatro anos de idade. E como toda criança, dificilmente lembrava dos enredos e na verdade só prestava atenção nas cores e nas lutas.
Recentemente me “forcei” a rever a série toda pra tentar entender o que fazia sucesso. E não cheguei a nenhuma conclusão clara.
A produção é precária, os monstros são quase todos mal feitos e nitidamente de “borracha” e as cenas de ação são repetitivas e algumas ruins de doer.
Mas por algum motivo que racionalmente não consigo explicar com clareza, a cada episódio, me afeiçoava (de novo) aos personagens e com isso cheguei até o final.
Quais as explicações que consegui tirar da experiência, o leitor pergunta?
História e Personagens.
Parece o óbvio, mas invariavelmente, vemos filmes/séries/animações que pecam ao não conseguirem unir os dois pilares da boa narrativa.
Se a história não é boa, se a narrativa não é cativante, ora, por que vamos acompanhar?
E se não nos importamos com aqueles personagens, ou nos identificamos com eles, por que os veremos?
Changeman consegue o feito de apesar de repleto de defeitos técnicos (e sim, estou levando em conta a época produzida) ser uma história interessantíssima, com diversos “pobres diabos” – ao melhor estilo Billy Wilder de ser – que não podem ser encarados como vilões, como é o caso do alienígena Gata, um ser que se vê forçado a seguir o comboio da encarnação do mal desse universo (Bazoo) para proteger sua família.
Assim como o meu personagem favorito, o pirata espacial Bubba, que é o vilão que amamos odiar, frio e cruel que revela um passado de orgulho ferido e um amor abandonado.
Mesmo o über vilão Giluke e a Ahames tem seus motivos tridimensionais para seguirem o comboio de Baazoo.
Essa característica de tridimensionalidade – cada vez mais incomum em produções mundo afora – é o que faz de Changeman uma série de TV cativante.
Talvez, os nascidos na minha geração não se lembrem desses detalhes, mas certamente o entretenimento inteligente voltado ao pequenos foi pensado com esse cuidado. Não trataremos nosso público como “imbecil”. Pensaremos em conflitos morais claros, transformaremos nossos algozes em personagens inesquecíveis, pincelaremos de drama, emoção e um pouco de humor non-sense (quem não se lembra do Monstro do Rock, ou do episódio passado num simulacro de Western?) E teremos um final apoteótico, repleto dos grandes clichês (e aqui a palavra não entra como demérito) das grandes aventuras míticas.
O sacrifício, o combate final, a união para a vitória, a glória.
Em qualquer cultura elementos assim fazem sucesso e são recompensados com palmas.
Uma pena que poucos vejam a série – ou melhor revejam – prestando atenção nesses detalhes, em especial na fauna fabulosa dos vilões principais.
E como esquecer da princesa Shima, a mulher com voz de barítono que amaldiçoada não lembrava quem era?
E mesmo o icônico Gyodai, sem a menor preocupação em ser mais do que o “monstro fermento” era responsável por momentos hilários.
Changeman pregava ainda a inocência – também no melhor dos sentidos – em seus heróis. Apesar de dotados de honradez e fibra moral, eram inocentes como seu público.
Como não lembrar do episódio (meu favorito quando criança) da Casa de Doces? E no final tocante e humano quando os personagens “lutam” pelos pedaços do algodão doce?
Changeman, uma fábula moral bastante funcional é ainda hoje uma bela história para crianças e uma diversão para os adultos, nostálgicos ou não.
Por isso, quando encerro esse texto imaginando um remake, é com respeito ao texto original e as belas idéias ali mostradas, que mereciam sem dúvida serem re-apresentadas a essa garotada que adora Pixar e que com certeza se apaixonaria pelo Esquadrão Relâmpago.
Na edição 15 do SenpuuCast falamos sobre os Super Sentai que é um dos gêneros mais famosos, cultuados e tradicionais de Tokusatsu.
Aqui no Brasil o público gosta muito desse tipo de tokusatsu pois, nos tempos áureos da rede Manchete, séries como Maskman, Changeman e Flashman fizeram sucesso no nosso país.
Confira essa edição!
“Muito boa resenha, com certeza o esquadrão relampago, deixou e ainda pode deixar muita gente chocada (no bom sentindo) com sua simplicidade e funcionalidade!!!”
Como sempre otimo texto Alexandre. Eu tbm sinto muito o fato dessa geração atual infelizmente não ter mais acesso a esse tipo de conteúdo (Em tv aberta). É lamentavel ver q as crianças hoje ficam presas a coisas do tipo Ben 10, Pixar e etc. Q as vezes ate tentam passar uma mensagem boa para as crianças mas de maneira tão sem profundidade q parecem amadores perto dos tokusatsus.
Nossa geração teve muita sorte, pois redescobrimos o japão com duas ótimas séries: CHANGEMAN e JASPION. Já assisti a vários super sentais e metal heroes, e as duas séries citadas se destacam. E no comboio da fama desses tokus, outros vieram para nos alegrar e divertir. Hoje, com 34 anos, curto muito assistí-las ao lado do meu filho de 3 anos, que já é fã
não só das duas séries acima, como também de maskman, black kamen rider, jiraya e winspector, hehe.