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Como Kamen Rider mudou os tokusatsus para sempre

Senpuu 10 anos ago 1 252

 Texto originalmente publicado no Henshin Journey por Rafael de Jesus
(rafaeldjesus@hotmail.com)

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Ultraman (1966) havia provado que o formato live-action para o público infantil era viável, e o fato de ser significativamente mais barato que o formato anime agradou as emissoras de TV. Diversas séries inspiradas em Ultraman surgiram: Robô Gigante (1967)Mighty Jack (1968)Captain Ultra (1967), etc.

Basicamente todos os tokusatsus dessa época tinham como fonte elementos de Ultraman, e quase sempre envolviam confrontos entre seres gigantes. Porém em 1971, a TOEI apresentou Kamen Rider, uma série cuja premissa não envolvia criaturas gigantes, o plot dos episódios não tomava proporções metropolitanas e não envolvia a construção de cenários futuristas (interior de naves, laboratórios enormes, etc). A aceitação pelo público foi imediata, e o personagem, original do mangá homônimo de Shotaro Ishinomori, é lembrado como um símbolo do gênero até hoje.

Kamen Rider era um ciborgue criado pela organização criminosa Shocker, cujo objetivo é a dominação mundial por todos os meios escusos possíveis, incluindo experimentos com seres humanos para criar soldados mutantes. Kamen Rider era um desses experimentos. Takeshi Hongo, um piloto de moto de corrida, é sequestrado e transformado em tal mutante para servir a Shocker, mas o mesmo consegue fugir das instalações da organização e decide lutar para destruí-la, com a ajuda de aliados.

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As séries da Tsuburaya possuíam uma estrutura narrativa e de estilo bem rígida. O formato dos episódios quase sempre era o mesmo, apresentando em ordem: Kaiju e problema que instaurava; estudo da situação e preparação de plano de ofensiva; ofensiva e desfecho. O estilo de câmera (fora as convenções criadas pela própria Tsuburaya) quase nunca permitia improvisos e artifícios cuja solução se desse na pós-produção por uma “emenda” ou “retoque”. Preservava-se o mais clássico possível neste quesito. Isso encarecia o projeto. Tal “pureza” da imagem não era elemento a ser aproveitado nas produções de outros canais de TV, que buscavam formas de baratear o processo.

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Ultraman (1966) e Ultraseven (1967) tinham como base de sustentação para os heróis organizações militares (novamente a rigidez). Quase sempre os personagens de apoio estavam em seus trajes formais, agindo ao máximo possível dentro da postura coerente: Atender a emergência conforme às ordens do líder e respeitar os diversos elementos hierárquicos. Dificilmente os personagens esboçavam traços subjetivos devido a estrutura em que estavam inseridos (não que não tivessem personalidade, mas a apresentação disso era mais sutil).

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Diferente das outras séries de tokusatsu da época, Kamen Rider não possuía uma estrutura militarizada que regesse a ação do herói (muito menos um formalismo clássico de estilo para a imagem). Não há uma organização formal que dá auxílio ao RIder. Seus aliados são seus amigos, pessoas comuns (com habilidades específicas, mas não “geniais”) com defeitos, vícios e gostos e sempre arrumam um jeito de se divertir em meio às crises. Em todas as situações agem como elas mesmas, sem a necessidade de dar feedback a um líder rígido.

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Ironicamente o ator Akiji Kobayashi que interpretou o líder da Patrulha Científica em Ultraman (1966), um líder militar, também interpretou o chefe da trupe em Kamen Rider (1971), um cara mais “solto”.

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Kamen Rider era uma série “mais pop”. Não era difícil encontrar segmentos em que os personagens estão a dançar, ou indo pescar ou saindo para uma pequena viagem.  A liberdade de subjetividade e vontade são elementos chave na construção dos personagens e na articulação das tramas: fazer o que é necessário da forma que se sabe, dando o máximo de si, na medida do possível, para resolver um problema (que muitas vezes envolvia resgatar alguém. Às vezes a vítima era o próprio Kamen RIder, proposição inaceitável numa série como Ultraman, cujo herói era quase uma divindade.

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A série da TOEI de 71 chegou quebrando todos os paradigmas de construção instaurados em Ultraman (destaque para a presença das mulheres na série cujas funções são bem mais valorizadas que nas séries Ultra). Kamen Rider fora criado como vilão e revolta-se contra a organização do mal, tornando-se uma força do bem. Possui uma camada humana consciente da sua situação de ciborgue, mas entende que deve defender a felicidade e justiça dos seres humanos, mesmo reconhecendo não ser, em todos os termos, um ser humano.

Todas essas rupturas envolvem mais liberdade de criação, mais improvisos e orçamentos mais baratos. E tal modelo fora seguido por outros canais de TV. Nascia o sub-gênero Henshin Hero: heróis mascarados de estatura humana que combatem forças do mal. Entre as obras inspiradas neste formato, tivemos já no ano seguinte: Kikaider (1972) (também da TOEI), Ch?jin Barom-1 (1972)Lionman (1972) (da P Production, criadora de Spectreman), Rainbowman (1972)

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Destaque para Super Robot Red Baron (1973) que tinha como protagonista um robô gigante (“formato ultraman”), mas era possível identificar elementos de Kamen Rider como a presença de minions e atos importantes se desenrolando no segmento dos personagens “não-gigantes”.

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A TOEI consolidou o seu próprio formato, aperfeiçoando-o nos anos seguintes com novas séries da franquia Kamen Rider e outras similares como Kikaider e Robot Detective (ambos também criados por Ishinomori). Foi progressivamente criando momentos em que riders lutavam juntos, aumentando aos poucos o número de componentes, “ensaiando” e desenvolvendo a fórmula de estilo que culminaria em Himitsu Sentai Goranger (1975).

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Com o sucesso de tal formato que dominou o mercado dos tokusatsus, as emissoras de TV passaram a dar uma atenção estética e financeira melhor, o que resultou em séries mais elaboradas, mas sem medo dos improvisos. As séries inspiradas em Ultraman praticamente pararam de ser produzidas até o final dos anos 70. Porém em 1978, a TOEI abraçava o elemento “Kyodai” de tais séries ao dar a sua adaptação de Spiderman um robô gigante. A televisão japonesa passou a ter como referências as séries da TOEI e seu modo de produção, tornando-se paradigma dominante até para tokusatsus televisivos fora do Japão.

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No ano seguinte incluiria tão elemento em sua franquia Super Sentai, a partir de Battle Fever J (1979), sendo presente até nas séries modernas desse sub-gênero hoje.

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O “formato ultraman”, com guerreiros e monstros gigantes no ato principal, continuou a ser produzido pela Tsuburaya e promoveu pequenas e lentas rupturas para se adequar às tendências, mas ainda permanecia muito conservadora e militarizada. Um exemplo mais radical de ruptura de estilo pela Tsuburaya pode ser observado em Ultraman Ginga (2013).

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1 Comment

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  1. Gostaria de fazer aqui uma justiça a um nome que 99% dos fãs de Kamen Rider e Super Sentai desconhece: Toru Hirayama. Sem ele, Kamen Rider e Goranger não teriam existido.

    Ele idealizou e formatou séries inteiras. Vale a pena ler sobre ele:

    Gestor de super-heróis:
    http://nagado.blogspot.com.br/2014/02/toru-hirayama-gestor-de-super-herois.html

    O Testamento de Um Produtor Chorão:
    http://usys222anexo.blogspot.com.br/2014/10/o-testamento-de-um-produtor-chorao.html

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