A Evolução dos Heróis

O post de hoje traz um assunto que permeia a imaginação do público, mas não se restringe a tokusatsus: a mudança dos heróis.

Recentemente comecei a assistir uma série britânica chamada Dr. Who que trata de um alienígena, o epônimo Doctor, que viaja pelo tempo e espaço com companheiros humanos.

A série está no ar desde 1963 e aí surge a pergunta: como ela pode existir a tanto tempo? Lá no começo, o ator que interpretava o Doctor teria que sair, então eles criaram um artifício interessante: ao chegar no final da vida do personagem, ele se regeneraria tal qual uma fênix, mas com outra forma e até uma personalidade diferente.

Na imagem abaixo, a gente pode observar todas as encarnações do protagonista, até a atual.

Sim, eles estão em ordem cronológica. Dá pra ver que praticamente ele está voltando no tempo. O primeiro Doutor foi interpretado por William Hartnell no alto dos seus 55 anos e era a figura de um avô, despejando conhecimento e sabedoria de seus longos anos ao seus companheiros bem mais novos.

Já a atual e 11ª encarnação vem na pele de Matt Smith que, com seus 29 anos. poderia no máximo um irmão mais velho, ou no caso de alguns de nós (como eu) nem isso.

A mesma pessoa, por incrível que pareça

Mesmo heróis teoricamente sem idade e perenes estão se rejuvenescendo. Um exemplo disso é o Super-Homem. Ele foi criado como um protetor perfeito e infalível, que nunca deixaria o mal chegar, inclusive sua imagem e porte refletiam isso. E essa é exatamente a visão que a maioria de nós tem do nosso pai quando criança.

Mas, com o passar do tempo, vimos Super-Homem se tornar cada vez mais Clark Kent, cada vez mais falível e humano. Sua aparência também foi ficando mais jovem, menos altiva. O interessante é que a diferença de idade do primeiro herói da TV, George Reeves, para o último do cinema, Brandon Routh, é de apenas 10 anos. Mas a aparência e porte dele são completamente diferentes.

No caso dos tokusatsus, a mudança maior não foi de idade e sim de caracterização. Antes tínhamos bem menos destaque para os defeitos dos nossos heróis que, quando existiam, eram usados praticamente apenas para efeito cômico ou para prosseguir a trama.

E o ponto mais importante: na grande maioria dos casos, esses defeitos sumiam depois do henshin. Hayate  era um palhação mulherengo, mas quando se transformava em Change Griffon, era novamente o herói perfeito.

Sempre um ótimo exemplo

Já atualmente temos nossos heróis mantendo toda sua personalidade, inclusive defeitos, depois da transformação. Em Shinkenger, tivemos a Kotoha. Ela não era inicialmente a pessoa a assumir o manto de ShinkenYellow e teve que fazê-lo no lugar de sua irmã. Isso fez com que ela fosse sempre muito insegura de suas habilidades.

Isso foi uma constante durante a série, ela falhava e fazia coisas erradas com muito mais frequência que normalmente acontece, e não era por alívio cômico. Era assim que ela era, um defeito que ela tinha. Ela não perdia só porque era uma heroína.

Gente como a gente

A diferença é que os problemas de cada episódio antigamente estavam praticamente sempre em outras pessoas, que seriam salvas pelos heróis que seriam responsáveis pela lição daquele dia. Hoje os problemas são trazidos pelos nossos próprios heróis. Kamen Rider Fourze começou criando o núcleo de personagens, e no começo todos eles se envolveram com Zodiarts.

Inclusive os dois Riders, Gentarou/Fourze e Ryusei/Meteor tiveram que superar problemas, mostrar suas vulnerabilidades. Mas eles não deixaram de ser heróis por expor isso. Pelo contrário, provavelmente o momento mais heróico de Ryusei foi por causa de seus defeitos. Foi um momento de superação, de deixar sua obsessão de lado e fazer o que é certo. Isso é muito mais heróico que apenas arremessar um BeyBlade no monstro.

Essa mudança traz a perspectiva da nossa geração. O foco deixou de ser “Quem queremos ser” para “Qual o melhor que eu posso ser“. Todos temos defeitos, e eles não desaparecem simplesmente por colocarmos uma máscara.

Eles sempre estarão conosco e faz parte do nosso heroísmo superá-los. Vimos que não devemos esperar que venha um ser perfeito voando dos céus para nos salvar. Nós mesmos temos que empunhar a espada, pegar os monstros (reais ou metafóricos) pelo colarinho e dar nossos finishers neles. Essa é a essência do herói que todos nós podemos ser. Então, meus caros, Allons-y!