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Gigante Guerreiro

Senpuu 11 anos ago 12 58

23 - jaspion

Texto de Wilson Silva

Ele ergue as mãos e posiciona na direção da cabeça. De repente, parece que raios cósmicos surgem e revestem o seu corpo com uma espécie de armadura metálica. Ele deve estar lutando com vários inimigos. Eu imagino, pelos movimentos que ele defere com sua espada, talvez ninjas espaciais. Ele corre, pula, luta e depois atira com sua arma que estava na cintura. Não parece ser uma luta fácil, mas ele não desiste e acaba com o último inimigo embainhando sua espada em plasma, disparando de forma firme e enfática a frase que antecede a finalização “Cosmic Laser!”, dando sequência a uma explosão que põe fim a batalha.

Essa cena poderia muito bem ser de um dos fantásticos episódios do Fantástico Jaspion, mas não. É apenas uma criança de 4 anos com a metade de um cabo de vassoura que ele faz de espada lutando com inimigos imaginários saídos direto das aventuras do Metal Hero mais popular do Brasil. O curioso é que não estamos em 1988, quando a extinta TV Manchete exibia os episódios de Jaspion e Changeman e sim em 2013 quando o máximo que você conseguiria de uma criança nessa idade, seria ouvi-la gritar “É hora de virar herói” enquanto aperta um relógio interplanetário e se transforma em um dos dez alienígenas mais poderosos do universo, exceto por aquele macaco aranha, é claro.

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A criança em questão é meu filho, Ivan, e um de seus heróis favoritos é Jaspion e não Ben 10, como a maioria dos meninos de hoje em dia. Sim, podem me acusar de influenciá-lo a gostar do que fez parte da minha infância ou de tentar impor o meu gosto nele. Talvez impor seja um pouco injusto para quem apresentou heróis japoneses a seu filho quase como por acidente. É claro que Ivan já pediu um Ominitrix e disparou teias do Homem Aranha, mas me impressiona o seu fascínio por Metal Heroes e Super Sentais sem qualquer influência maciça e contemporânea.

Tudo aconteceu quando eu estava no supermercado, ou seja, estava de péssimo humor. Sem contar que era domingo de manhã e enfrentava aquelas típicas filas de quem deixou para fazer compras na última hora. E foi pelo telhado do mercado, ao som de um coreto de vozes celestiais, que entrou um feixe de luz e iluminou o ponto exato que se encontrava o DVD do Jaspion na prateleira de filmes a R$9,99. Imaginem a expressão de uma criança de 4 anos, encantada, surpresa, olhando para algo inacreditável – não era a de Ivan e sim, a minha. Quem é que pensa em extrato de tomates e arroz em uma hora dessas? Segurei o DVD com as duas mãos como se já fosse meu e o levei para casa. Depois disso, foi como mágica. Assistimos e curtimos todos os episódios juntos. Logo, voltava ao supermercado para buscar os outros volumes e com eles, vieram o Esquadrão Relâmpago, Flashman e Jiraya.

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Confesso que fui tomado por um orgulho e saudosismo exacerbados quando vi meu filho se transformando em heróis japoneses e enfrentando praticamente as mesmas batalhas e inimigos que eu quando criança. Ter um filho é como se olhar no espelho do tempo. Por diversas vezes, Ivan me fez revisitar a minha infância através de batalhas intergalácticas em histórias heróicas que ajudaram a formar um pouco do homem que sou. Sei que alguns diriam que cada um tem o seu tempo e que eu deveria deixar o meu filho viver o dele. Não posso negar que me enternece mais vê-lo se transformando em Jaspion de forma simples e perfeita que usando um relógio ou até mesmo um celular para morfar, por exemplo. Mas não. Não há nada imposto ou alienador aqui. Ivan escolhe seus heróis de forma voluntária e aleatória. Há semanas que é Jaspion, outras que é o Change Dragon ou Griphon e há outras que ele simplesmente fica hipnotizado frente a uma das mil versões dos Power Rangers com seus megazords megaconfusos. Nem tudo é perfeito.

Certo dia, Ivan discutia com outra criança da mesma idade sobre quem tinha o que – eu tenho isso, eu tenho aquilo, encerrou a discussão falando – “Eu conheço o Jaspion!” A outra criança perguntou – “Quem?” e, de alguma forma, Ivan sabia que estava em um mundo só nosso, que as outras crianças não podiam entrar e isso fazia com que se sentisse especial – e eu também. Eu trouxe o passado de volta e entreguei nas mãos do meu filho, meu pequeno gigante guerreiro, e retomei a batalha contra MacGaren e Kilza, interrompida simplesmente por que havia me esquecido que um coração de criança não envelhece, ou não deveria.

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Essa semana chorou ao saber que não existe um jogo do Jaspion. Foi a primeira vez que dei razão ao seu choro. Coloquei Ivan no colo e tentei consolá-lo, mas quem iria me consolar? A mãe não entendeu nada quando ao entrar no quarto pegou pai e filho com um olhar perdido de quem lamenta algo, suspirando. Que mundo é esse que fazem mil jogos dos Power Rangers, mas não há um jogo do Fantástico Jaspion, eu penso.

Mas logo Ivan me anima. Diz que Satan Goss transformou Namaguederaz em um monstro terrível. “Vamos acabar com ele, papai!” – Ele grita me puxando da cadeira frente ao computador. Em seguida, ergue seu braço em direção à boca como se fosse dar um comando. Foi quando entendi que a situação era séria e juntos clamamos por aquele que foi e tem sido responsável por inúmeras de nossas vitórias – “GIGANTE GUERREIRO, DAILEON!

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12 Comments

12 Comments

  1. nossa muito gostoso isso,espero ver um dia isso acontecendo com essas novas gerações,que nem se sabe mais em que letra está.quem sabe não se tem uma nova explosão de tokusatsus feito por uma emissora corajosa e que por acaso sem saber o cara que dê a ideia também ame isso secretamente.o/

  2. FK Japa disse:

    Muito bom o texto! Me vejo nessa situação daqui uns bons anos

  3. EDUARDO disse:

    OLHANDO AS IMAGENS E ESSE TEXTO AI… ME DA UMA SAUDADE DE 1998 E DA TV MACNEHTE TBM…
    BONS TEMPOS AQUELES QUE Ñ VOLTAM NUNCA MAIS….

  4. Marcus disse:

    Emocionante. Mais nada a dizer.

  5. Thiago - O Rato disse:

    Que fofo, lindo.
    Pouco importa se é tosco ou velho, saber que você e o Ivan embarca na fantasia, e como pai e filho, é maravilhoso.

  6. Ghile Arms disse:

    kra, estou completamente emocionado. Chorei lendo o texto e estou chorando tentando escrever aki. A fraze na qual vc encerrou o texto ficou muito marcada kra. Sinceramente acredito q não seja nostalgia e sim uma sensação d q algo impossível aconteceu. O Ivan termando a discursão dizendo “-Eu conheço o Jaspion!-” putz ele sab q é uma forma de dizer q nada doq vc tenha supera isso…porra chorei d novo… kra emotivo eu…

  7. Rafael disse:

    Wilson Silva. Existe um jogo em produção no qual será possível “inventar” e jogar com qualquer equipe de Super Sentai, incluindo Metal Heroes e Kamen Riders. O jogo está previsto para ser lançado em dezembro.

    Seu filho (e vc) poderão jogar com seus heróis favoritos. Segue o link.

    http://www.kickstarter.com/projects/1893273284/chroma-squad-manager-game-with-japanese-style-supe?ref=live

  8. Eduardo Romero disse:

    Caramba……. Isto foi incrível… me faz pensar quem sou eu realmente e no que estou me tornando, quando escuto esporadicamente as musicas e rock que tanto curti sinto-me vivo novamente. Go Ivan!

  9. luiz disse:

    esses sim eram herois bons de se ver…
    Ate hoje baixo sentais, de preferencia os antigos(falo ANTIGO mesmo, baixei o 1ºkamen rider, e o 1º sentai..pra conhecer)mas nao podia deixar de lado os saudosos da infancia…Assisto lion man(o laranja) e racho de rir ao mesmo tempo q sinto aquele encanto q eles causavam no começo… bons tempos… os de hoje sao bons tb, mas nao deixo de assistir as vezes os antigos…
    tenho quase tudo que foi exibido nessa epoca, desde imagens ate discografia de TODOS ELES..e sempre me emociono com as musicas q nao me canso de ouvir….
    valeu…..

  10. Vanessa disse:

    Gostei dessa historia, sou muito fã do Jaspion, gostaria de ver novamente na TV aberta.

  11. Perfeito o texto! O sobrinho da minha esposa também está viciado no Jiraya e não foi por imposição. Viu o pai assistindo um episódio no Youtube e começou a assistir também. É como eu costumo dizer: existem produtos bons, ótimos e os clássicos! Séries como essas que passavam na Manchete são simplesmente clássicos. Seu visual pode até envelhecer. Mas seu espírito permanece eternamente atual!

  12. gesiel paulo rimes pereira disse:

    eu participei de tudo isso jaspion cosmic laser alan moto speci daileon .. gigante guerreiro daileon ; hoje eu tenho 53 anos e ainda assisto pelo google o fantastico jaspion e maravilhoso pena que hoje nossas criancas nao tem o prazer de assistir como nos

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