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João e Maria – Caçadores de Bruxas [Crítica]

Alexandre Landucci 11 anos ago 1 63

hansel_and_gretel_witch_hunters_xlgJoão e Maria – Caçadores de Bruxas
(Hansel and Gretel: Witch Hunters, 2013)
Ação – 90 min.

Direção: Tommy Wirkola
Roteiro: Tommy Wirkola

Com: Jeremy Renner, Gemma Arterton, Famke Janssen, Peter Stormare

Crítica: Alexandre Landucci

Tá na moda. Pegar uma história infantil (ou infanto-juvenil) e transformá-la em uma produção “adulta”, séria, violenta, agressiva na abordagem dos personagens, às vezes até desvirtuando os conceitos desses contos. Essa não é uma “invenção” do cinema, mas uma consequência da ânsia do publico por fantasia. Se Bill Willingham em sua serie de quadrinhos Fábulas fez uma enorme revolução, True Blood, Crepúsculo, Grimm, Supernatural entre muitos e muitos outros fizeram o mesmo na TV e no cinema. A fantasia vende muito e cada vez mais o cinema se abraça com muita força a estes personagens.

Ano passado, o cinema foi tomado de assalto pelo risível Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, uma bobagem sem muita graça sobre o presidente americano caçando os chupadores de sangue e esse ano é a vez de João e Maria caçando bruxas.

O bom, é que João e Maria é bem mais divertido que o filme do presidente americano. Escrito e dirigido por Tommy Wirkola (o maluco responsável pelo cult Zumbis na Neve/Dead Snow, uma maluquice sobre zumbis nazistas) João e Maria se leva muito menos a sério, é sucinto, direto e não perde tempo com explicações pretensiosas e se foca no óbvio nesse tipo de produção: ação, sangue e até nudez (olha só).

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A história parte do conto clássico, com dois irmãos sendo largados na floresta e encontrando a casa de doces e a bruxa. Aí, a história muda completamente. A bruxa é medonha, as crianças atacam a bruxa de forma violentíssima, mas o final acaba sendo o mesmo: bruxa queimada no forno.

A partir daí, João e Maria se transformam em caçadores de bruxas e a trama segue até uma cidade alemã em que crianças foram sequestradas e os irmãos são contratados para encontrá-las. Curioso citar, que o filme mostra recortes de jornal ilustrando os feitos de João e Maria, com ilustrações que parecem medievais, o que nos situa historicamente na trama. Jeremy Renner é João, um sujeito calado e de pouco papo, enquanto Gemma Arterton é Maria, de personalidade forte que bate primeiro e pergunta depois.

A trama é bem rasa, bem óbvia, mas isso não chega a ser um defeito, já que o filme não tem pretensões de ser nada além de um passatempo razoável. Como estamos nesse mundo fantástico, é preciso detalhar as maquiagens e criaturas mágicas criadas pela produção. Famke Janssen, bela atriz holandesa radicada há anos nos Estados Unidos (e que todo mundo lembra como a Jean Grey em X-Men) vive a bruxa mor, chamada Moira, sob muitos momentos embaixo de uma maquiagem razoável, que faz seu rosto marmorizado e praticamente craquelado. O mesmo vale para suas duas ajudantes (ou filhas, ou casal de filhos, já que uma das bruxas/os é absurdamente andrógino/a) que mantém o padrão de maquiagem do filme, que não é ruim, mas está longe da qualidade exigida em um filme do gênero nos dias de hoje. Existe um troll no filme, que parece saído – sem muitos upgrades – de um filme oitentista do gênero, como Labirinto, lembrando bastante à produção dos estúdios Henson.

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Por outro lado, inspirado nessa onda de filmes realistas e adultos envolvendo fantasia, João e Maria é recheado de violência gore e explícita, incluindo desmembramentos, cabeças amassadas entre outras nojeiras que talvez incomodem aqueles que irão ver o filme esperando aquele sangue em computação gráfica, típico das produções do gênero.

Toda essa cultura de seriedade na fantasia me faz questionar o público, estaremos ficando mais infantilizados e abraçados a crenças e histórias que nos tragam – de repente – algum conforto, mas não queremos as ver de forma infantil, já que (em tamanho ao menos) crescemos? Ou é a ousadia do ser humano, que procura adaptar tudo a sua realidade contemporânea? Ou mesmo é o desejo sádico do público em re-imaginar algo que já conhece dando uma “nova cara” a essas histórias? Ou mesmo é a facilidade para vender um conceito conhecido, porém “mudado”, que possa atingir um público nerd ávido por todo tipo de historia fora do mundo real? Ou a eterna falta de criatividade hollywoodiana em criar conceitos novos e de sucesso?

Antes que a pedra gigante role ladeira abaixo sobre minha cabeça, isso não é uma crítica, mas uma constatação. João e Maria é apenas mais um elemento nessa onda que parece não ter fim. Teriam mesmo os nerds tomado de assalto a cultura do entretenimento de tal modo que somente a realidade fantástica pode funcionar? E mais, estariam estes felizes com essa avalanche? A qualidade dessas produções é realmente boa e acerta no alvo de seu público?

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Sobre as duas últimas questões, me permito observações: Não, imagino que não estejam felizes, já que, o publico que motivou esse tipo de produção ser alçada a uma categoria de produto de sucesso, sofre com a qualidade cada vez menor dessas produções. Por outro lado, um público diferente, ávido por escapismo abraça essas histórias com muita força. Seria então, uma resposta dos frequentadores do cinema a sua realidade? Quanto mais escapismo, menos preocupações? Essa é a regra do cinema desde sempre, a fuga para a tela prateada é muito sedutora e nos proporciona horas de desligamento de nosso mundinho, mas não responde o porquê esse fascínio com esse tipo de tema específico. Seria uma vontade de voltar à infância?

Não sei, e gostaria bastante de saber. O fato é que diante da invasão, João e Maria é digno. Não é brilhante, nem tem essa intenção, mas é divertido no que se propõe (as sacadas “modernas” como um desfibrilador de corda ou a “doença do doce” são excelentes) e na média das produções do “gênero” é superior à maioria delas.

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Dizem que é crítico de cinema, dizem que é um cara legal e dizem também que pode ser bem ranzinza. Outros, no entanto, dizem que "as vezes" ele acerta no que fala, enquanto outros - ele deve pagar essas pessoas - gostam do trabalho dele. Fã de Galactica, Doctor Who, Hayao Miyazaki, David Cronenberg, Dario Argento, Orson Welles, Grant Morrison, Neil Gaiman e comprador compulsivo de filmes.

1 Comment

1 Comment

  1. Stephanie disse:

    Gosto da temática “contos de fadas”, as características particulares dessas narrativas, que a meu ver, são tão envolventes, tão mágicas e essa “coisa” oculta presente nos contos de fadas, me instiga e fascina muito, mas não vou adentrar muito nessas questões recheadas de pontos de vistas e pura psicologia… Gosto muito das versões mais sombrias (algumas, nem todas) adaptadas para o cinema, gosto também de filmes “simples”, enredos simples, desenvolvimento bacana e sem muito “lenga lenga”, algumas produções pedem isso, outras nem tanto, este em particular, parece se encaixar nesse padrão simplista, pelo menos foi o que eu entendi, lendo a descrição acima.Tô esperando muito da fotografia, o cenário mesmo parece ser bem bacana e no mais, só assistindo mesmo pra saber e opinar… Estou ansiosa por isso!!
    Parabéns pelo post.

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