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Tetsuo (1989) – Crítica

Mozart 13 anos ago 2 2

Tetsuo (1989)

Terror/Sci Fi – 67 min.

Direção: Shinya Tsukamoto

Roteiro: Shinya Tsukamoto

Com: Tomorowo Taguchi, Shinya Tsukamoto e Kei Fujiwara

Crítica escrita por: Alexandre Landucci

Cena 1: homem, em meio ao entulho e a sujeira, rasga de forma brutal sua própria perna e sem nenhuma cerimônia enfia um cano de metal dentro da mesma. O tempo passa, e quando o mesmo repara que sua perna está cheia de vermes que consomem com gosto a perna violentada, parte em disparada para a rua onde é violentamente atropelado.

Cena 2: um homem faz a barba com um barbeador elétrico quando percebe que tem um pedaço de metal encravado no rosto.

Cena 3: O mesmo homem que se barbeava surge descendo de um trem, suando e perturbado. Senta num banco e encontra uma mulher que se vê consumida por uma bizarra criatura, uma mistura de carne podre e pedaços de ferro retorcidos.

Cena 4: O homem depois de ser perseguido pela mulher perturbada chega em casa e começa a notar mutações corporais estranhas em seu corpo. Aos poucos seu corpo começa a se transformar em uma bizarra mistura de carne/metal, e depois de um café da manhã sexual acaba matando sua parceira/amante/esposa com sua broca-pênis.

O que? Que negócio bizarro é esse?

É isso que o leitor que não conhece e não viu um dos mais influentes e perturbadores filmes japoneses do final do século XX deve estar pensando depois de ler os parágrafos acima. Tetsuo, essa pérola do mau gosto e da perturbação é um dos mais impressionantes e marcantes filmes do recente cinema japonês. Feito com muito pouco dinheiro pela mente transloucada de Shinya Tsukamoto, o filme pode ser descrito como uma mistura de Akira hardcore, com David Lynch (em especial em sua estréia Eraserhead), muito do surrealismo de Buñuel (e suas imagens sem muito sentido mas impactantes em O Cão Andaluz) e a temática presente na primeira parte da carreira do genial David Cronenberg (em especial Videodrome), que apresentava narrativas sempre conduzidas pela idéia de mistura entre carne e máquina, o tal New Flesh (indicado no pôster americano de Tetsuo e sempre repetido em filmes do diretor canadense).

Tetsuo é apresentado em um grosseiro e imundo preto e branco, com uma montagem que beira a psicodelia, recheado de efeitos visuais que usam e abusam do stop-motion para criar uma atmosfera de degradação e de podridão. Além disso, a trilha sonora amplifica a intenção de Shinya em nos apresentar esse mundo onde o metal e a carne coexistem. Sincopada como uma fábrica em plena produção, a trilha de Chu Ishikawa é hipnótica e nauseante.

Apesar de toda a inicial perturbação (que foram aqui descritas nos primeiros parágrafos), Tetsuo revela ter um roteiro simples e bastante compreensível. É uma história de vingança, que envolve os personagens principais da história. O homem identificado como Fetichista (o próprio diretor) é uma figura estranha, uma mistura de androginia com cyber punk e que parece ter o “poder” de enferrujar e apodrecer tudo o que toca, o que garante a produção uma oportunidade incrível de criar seqüências fortes. O outro personagem principal é Homem (Tomorowo Taguchi) – sim, assim descrito apenas – que vai aos poucos se tornando o tal “Homem de Ferro” do subtítulo americano da produção. Uma mistura de Borg de Star Trek com o (curiosamente) Tetsuo do Akira, é o personagem que mais tem tempo de tela e que tem sua transformação em homem-máquina mostrada sem muito pudor.

Outra idéia inteligente é apresentar flashbacks e imagens que aparentemente são desconexas e sem muito sentido em uma televisão. Além de funcionar perfeitamente para o tema carne/máquina cria um diferencial visual já que a imagem que surge da tela da tv é ainda mais suja, cheia de interferências e “fantasmas”. As imagens de Tetsuo mostram que o diretor (também roteirista, um dos produtores, um dos diretores de fotografia, montador e diretor de arte) soube muito bem passar por cima das limitações financeiras (claras pelo uso de efeitos quase caseiros de stop-motion e pela maquiagem em alguns momentos bastante limitada) com muita criatividade. Um dos grandes exemplos disso é quando ele precisa mostrar os personagens correndo, e simplesmente aposta na câmera em primeira pessoa em velocidade acelerada, o que causa um desconforto em que ve, mas que é uma solução visual muito boa.

Tetsuo é uma experiência cinematográfica muito interessante, mas não é para todos os gostos. Ao mesmo tempo em que suas imagens ficam gravadas na retina do espectador, as mesmas podem causar repulsa caso seu estômago não agüente esse tipo de produção. Friamente, o filme não chega a ser uma obra prima, mas em pouco mais de uma hora é criativo, provocador, visceral, grosseiro e muito perturbado. Queria saber o que tem na água desses japoneses para que façam produções tão estranhas…

Nota 8/10

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Written By

Vulgo Mozart Gomes é o Fundador , administrador e idealizador do Senpuu. Designer Gráfico, Mozenjaa é o responsável por todas as mudanças no layout do Senpuu, tanto as boas quanto as ruins. Fã de tokusatsu desde a era manchete, resolveu consumir diariamente todo o seu amor pelo tokusatsu, criando o Senpuu.

2 Comments

2 Comments

  1. rafaeltaira disse:

    será q melhor q o iron man da marvel? só sei q fiquei com vontade de ve-lo agora.

    pena q maioria dos filmes postados aki não se acha em locadoras convencionais.E sim só por outros meios.

  2. Mozart disse:

    É Rafael Taira, cada um se vira como pode. Eu adoro Tetsuo, quando tinha acabado de assistir Akira pela terceira vez no meus 16 anos, procurei imagens do Tetsuo para um singelo papel de parede em meu computador. Foi quando encontrei uma das imagens mais chocantes do filme (a que está no banner de apresentação na home do Senpuu). Encontrei o filme e o assisti, é um clássico e merece ser visto e re-visto varias e varias vezes!
    Recomento 100%

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