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Poesia – Crítica

Senpuu 13 anos ago 1 3

Alexandre Landucci

Drama – 139 min.
Direção: Chang-dong Lee
Roteiro: Chang-dong Lee
Com: Jeong-hie Yun, Da-wit Lee e Nae-sang Ahn

Poesia guarda muitos paralelos com Mother, também coreano, por suas linhas narrativas semelhantes. Ambos têm jovens ou adolescentes retraídos e cheios de segredos e mulheres fortes que tentam compreendê-los e lidar com as dificuldades que as atitudes que esses jovens são acusados de tomar.

Mother falava de uma mãe que faz de tudo para ajudar seu filho, e Poesia fala de uma avó (Mija) que cuida do neto adolescente e que tenta seguir sua vida como empregada de um idoso com problemas de saúde. Enquanto esperava o ônibus em seu ponto, descobre um curso de poesia e resolve participar. Durante quase uma hora acompanhamos a rotineira vida da personagem, entre seus afazeres com a casa, seu trabalho, sua tentativa de escrever uma poesia e sua relação com um adolescente fútil, banal e desrespeitoso.

Um fato – tratado com naturalidade pelos envolvidos – muda sua rotina e a personagem passa a correr contra o tempo para ajudar seu neto envolvido em uma tragédia. O diretor Chang-dong Lee é muito sutil ao revelar as impressões de Mija sobre o fato, mas não alivia ao apresentar todos os envolvidos como interesseiros e problemáticos homens insensíveis e motivados a apenas em manter as aparências.

Um triunfo ao conseguir sobressaltar o espectador da cadeira que acompanha uma hora de vertigem – ao modo oriental, que fique claro – em que torcemos com dubiedade para que a sensível e amorosa avó consiga ajudar seu neto, que fica cada vez mais claro ao espectador – outro acerto do diretor – não merece ser ajudado.

A questão da poesia é apresentada de forma tão bela e natural e em nenhum momento torna moroso o filme. Poesia é deslumbrante fotograficamente, em especial nas seqüências que tem como plano de fundo o interior do páis, com pastos e plantações verdes. Lá, o diretor abusa das belas imagens para – talvez – contrastar com as impressões que tem de sua personagem, uma mulher dolorida e em dúvida entre seguir sua consciência e ajudar seu ente mais querido.

Ao mesmo tempo, o filme também fala da dificuldade da relação entre gerações – aqui se utilizando da poesia, gênero literário zumbificado – e na forma com que agimos de forma natural diante de situações absurdas e que deveriam chocar uma sociedade.

A cena em que se revela a trama macabra que envolve o filme é um exemplo poderoso dessa crítica do diretor Chang dong-Lee a sociedade. Notem a revolta contida e a vergonha e embaraço com que a personagem de Jeong-hie Yun recebe as notícias enquanto seus companheiros de mesa bebem e tratam da situação com enorme tranqüilidade.

A interpretação da atriz é muito interessante, sabendo mesclar uma graciosa ingenuidade com uma amargura e desapontamento. Há meia hora final do filme é recheada por momentos como esse, onde a atriz mostra-se fragilizada pelas situações a seu redor e sem saber como agir diante das dolorosas conseqüências de seus atos.

Poesia é dramático sem apelar para o melodrama e consegue ser intenso e (er…) poético sem apelar para o intelectualismo barato, tem grande interpretação de sua atriz principal e uma história que mistura a delicadeza com a mágoa em doses iguais criando um filme delicioso e poderoso. Forte candidato a entrar em uma lista de melhores do ano.

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1 Comment

1 Comment

  1. Fire disse:

    Parece valer muito a pena. Ótima resenha e crítica como de costume do nosso parceiro Alexandre Astro de TV Landucci. Parabéns.

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